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É uma fotografia lindíssima, que a Rita Seabra partilhou no Facebook através do Miguel Pavão. Grandes veleiros com velas içadas ao vento em jeito de descoberta XXI. Ocorreu-me se uma forma de sair deste cataclísmico estado em que nos mergulhámos não seria haver, ainda, neste planeta uma qualquer terra por descobrir. Aconteceu crescermos com a África, a Índia, o Brasil. Experiências e Territórios que nos trouxeram avanço tecnológico, prosperidade, enriquecimento cultural, ousadia, criatividade, exotismo, um planeta esférico. O cenário que antecedeu a Era Dourada dos Descobrimentos era igualmente a crise económica da Europa… diz-se que os ciclos da História se repetem de alguma forma…

Sentiam-se certamente perdidos os nossos marinheiros de XV, entrando mar a dentro sem saberem o que estava atrás da linha cortante do horizonte. Perdidos, como nós. Mas a palavra descobrir estava envolta de uma qualquer sedução que, hoje, é muito mais perturbação. Como se tudo o que pudesse eventualmente estar coberto se tenha irremediavelmente exposto e, nesse mostrar, tenha perdido o fascínio. Contudo, há uma incerteza fria que contradiz esta sensação de falta de segredos… apenas sabemos que é algo desumanizado, invertebrado… mas certamente muito pouco claro.

Vemos como tudo está a corte e como cortar é tantas vezes amputar. Portugal é isto… um corpo amputado. Primeiro assistimos a cada corte cirúrgico sem nos indignarmos o suficiente para desviar o bisturi, depois chegaram instrumentos mais ruidosos e tínhamos esquecido o que era a indignação. Como estamos? Com medo de existir, como diz José Gil. E já não se imagina que haja nos veleiros gigantes da fotografia, outrora caravelas, um balanço que nos empurre com uma qualquer esperança para o devir.

Mas há que decidir se aguardamos pela Terra do Nunca, onde as crianças não envelhecem, ou se somos piratas dentro dos nossos arrastões. Precisamos de concentração, olhar o mapa e traçar uma rota de assalto à irresponsabilidade, à incompetência, ao egoísmo, à pequenez intelectual, à miséria. Depois teremos que afundar o “usurpado” com argola de chumbo em redor do pescoço e sem qualquer possibilidade de dar à costa. Sem terras de mistério por descobrir, teremos que ser duros contra outros e contra nós próprios, teremos necessariamente que nos reinventar sob um princípio básico, o da inteligência.

Por: Cláudia Quelhas

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