Seiscentos e dezasseis euros foram suficientes para a Câmara da Guarda encontrar o novo concessionário do Hotel de Turismo para os próximos dez anos. A Predial das Termas de São Pedro do Sul, cuja proposta foi considerada vantajosa pelo júri do concurso, deverá tomar conta da gestão da unidade em Novembro, caso a Sociedade de Hotéis Transcontinental, concessionária há 25 anos, não exerça o direito de preferência. O segundo concurso público, com um preço base de dois milhões de euros, ficou ainda marcado pelo pedido de anulação de uns proponentes, mas a sua contestação foi declarada «inoportuna e inadmissível», enquanto os dois outros concorrentes não cumpriram o caderno de encargos, adiantou Álvaro Guerreiro.
A Predial das Termas de São Pedro do Sul «cumpriu todos os parâmetros», já que oferece dois milhões e seiscentos e dezasseis euros pelo Turismo, subdivide as rendas com factores progressivos de aumento em três períodos ao longo da concessão, sem nunca ultrapassar os 25 por cento, e não coloca qualquer tipo de condições à concedente. Argumentos que convenceram o júri a propor a adjudicação da concessão ao terceiro concorrente, cuja proposta obteve um valor «máximo» nos critérios de adjudicação (capacidade técnica, financeira e rendas), uma decisão aprovada por unanimidade na última reunião do executivo guardense. No entanto, a passagem de testemunho só será definitiva se a Transcontinental não exercer o direito de preferência, oferecendo exactamente o mesmo valor e o mesmo tipo de condições que a proposta vencedora. Um cenário que será de excluir, uma vez que a actual concessionária apresentou nos dois concursos públicos um preço abaixo do valor base da concessão, para além de exigir a realização prévia de obras e propor que a renda a pagar ao município fosse calculada com base nas receitas. O mesmo se passando com a oferta da sociedade “Continental”. Conhecida a escolha do júri, o vereador social-democrata Crespo de Carvalho considerou ser necessário ter «algum cuidado com a passagem de testemunho».
Tudo indica que no próximo dia 31 chegará ao fim a gestão da Transcontinental no Hotel de Turismo da Guarda, unidade que gere há 25 anos. Em declarações recentes a “O Interior”, o administrador da sociedade, Miguel Paredes Alves, avisou que é necessário aumentar o nível de «conforto e comodidade» das actuais instalações, pertença do município, nomeadamente equipamentos de lazer, saúde, uma piscina interior aquecida e espaços de pequenas dimensões para reuniões de negócio. Tudo para «fidelizar» os clientes. Desconhecem-se até agora os projectos da Predial das Termas de São Pedro do Sul para o Turismo, cujos responsáveis não se quiseram pronunciar antes da adjudicação definitiva. O Hotel de Turismo nasceu nos anos 40 com a vaga de promoção do turismo e do bom gosto em Portugal, bem como do desejo de dotar o país com as instalações hoteleiras necessárias. O arquitecto Vasco Regaleira abraçou o projecto e planeou uma unidade hoteleira para um ponto privilegiado da cidade, abrangendo a vasta panorâmica da zona da raia. A sua obra apresenta, então, na fachada principal um corpo central em sugestão de torre, enquanto lateralmente se desenvolvem arcarias neo-românicas. Nas fachadas laterais o arquitecto interpretou e recriou o seu entendimento da arquitectura regional: fachadas severas com as cantarias a dividirem e ritmarem os vários corpos. No interior, o edifício distribui-se por cinco pavimentos, destinando-se a cave e subcave a serviços de apoio. O rés-do-chão é o espaço de acolhimento do visitante, com o átrio, uma sala de estar, uma galeria que contorna as traseiras, uma sala de jantar e alguns quartos. Dois pequenos jardins, um nas traseiras, outro lateral, articulam-se com o espaço. Os dois andares superiores são destinados aos quartos. Vasco Regaleira, contemporâneo de Raul Lino, projectou uma obra em adequação com o carácter da arquitectura local, segundo as suas convicções e de acordo com um pensamento estético que conheceu expressão teórica.
Luis Martins
