Arquivo

Homem do Piano

Corta!

Há já muito tempo que o cinema francês não oferecia tão fabuloso filme. Quase apetece cair na tentação de dizer que desde O Acossado, de Godard, que não se via algo assim, mas logo vários nomes nos assaltam a memória, pelo que, o melhor mesmo, é evitar tais exageros. Mas O Acossado não surge aqui vindo do nada. Existe algo em De Tanto Bater O Meu Coração Parou, que nos remete para essa obra-prima da Nouvelle Vague. O que, num ano como este, em que poucos são os filmes que nos ficarão na memória, é tanto uma surpresa quanto um alivio. Ainda há esperança. No cinema, em geral. No francês, em particular.

O título (magnifico) deste filme de Jacques Audiard, é bastante explicativo daquilo que nele se vê, sente e adivinha. Com uma interpretação de Romain Duris, que muitos actores ficariam contentes por conseguir pelo menos uma vez na sua carreira, algures entre uma Rosetta e o acossado de Belmondo, mostra-nos as aventuras e desventuras de um agente imobiliário (à lá Soprano na forma de actuar profissionalmente) que encontra no piano uma forma de salvação. A violência dos gestos, visíveis, sem vestígios alguns de sentimentos, dá assim lugar à violência dos sentimentos, num processo solitário de quem procura uma mudança. Mudança obrigatória que leve a uma salvação qualquer, bem ao jeito de tantas personagens do cinema clássico americano, aqui mergulhada num frenesim citadino e europeu que os franceses durante tantos anos nos souberam tão bem mostrar. Mas que há muito não se via.

No final, também A Pianista, de Haneke, interpretada por Huppert, nos assalta violentamente a memória e quase apetece propor algo como um Aliens vs Predador entre estes dois pianistas. O resultado adivinha-se prometedor. Enquanto tal ideia não é colocada em prática (sim, eu sei, jamais o será, por a ideia ser tão estranha e talvez despropositada) este De Tanto Bater O Meu Coração Parou é somente um dos mais fortes candidatos a filme do ano.

Edukação

Numa altura em que tantos grupos se continuam a manifestar contra os malefícios da globalização, de uma sociedade capitalista como a nossa actualmente, um filme como Edukadores, de Hans Weingarhter, pode bem vir a transformar-se em filme de culto para todas essas pessoas insatisfeitas e desejosas de uma qualquer revolução.

As ideias, que já todos conhecem, por lá vão surgindo, umas atrás das outras, através de um pequeno grupo de militantes que decidiu utilizar como arma de combate entrar nas casas de quem tem muito, virar tudo de pernas para o ar e assim espalhar o medo e insegurança entre aqueles que aparentemente, nos seus palacetes, não sabem sequer o que tais sentimentos são.

Se levado com alguma ingenuidade, os Edukadores é até um filme agradável de se ver. O pior mesmo é se alguém tentar levar um pouco mais a sério tudo o que por lá é dito e feito. De tão caricaturais que são as suas personagens, ficamos por vezes sem conseguir perceber muito bem qual é afinal o ponto de vista do realizador acerca do assunto que aqui trata, tantas vezes parece ele estar a gozar com as suas personagens, tornando-as ridículas ou grotescas. Sendo elas as vozes e os gestos da mensagem que aqui se quer fazer passar, a dúvida que se instala é mais que legitima.

Filme para se ver sem que se leve muito a sério tudo o que nele vai acontecendo. Com alguns bons momentos, Os Edukadores não chega nunca a ser um bom filme, mas ainda assim, é um filme a ver, sem qualquer dúvida.

Por: Hugo Sousa

Sobre o autor

Leave a Reply