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Holocausto Palestiniano

Confesso que sempre me preocupou esta guerra, de guerrilha, entre Israel e a Palestina. A recente, brutal e desproporcional invasão da faixa de Gaza por Israel levou-me a procurar quem, destes dois povos, terá atirado a primeira pedra. Uma rápida pesquisa no Google, da palavra “Palestina”, encontrou milhões de referências. A partir da análise das três páginas, mais visitadas, parece-me que temos que recuar até ao final do século XIII a.C.(!), para encontrarmos um culpado.

A palavra Palestina deriva do grego Philistia, nome dado pelos autores da Grécia Antiga a esta região, devido ao facto de, em parte dela, (entre a actual cidade de Tel Aviv e Gaza) se terem fixado no século XII a.C., os Filisteus. Ter-se-ão estabelecido em várias partes do litoral Sul do Mediterrâneo, incluindo a área hoje conhecida como Faixa de Gaza. Após séculos de domínio Egípcio e decadência final, em finais do século XIII a.C., a região terá sido invadida pelos Povos do Mar. Um destes povos, os Filisteus, fixou-se junto à costa onde construiu um poderoso reino. Contemporânea a esta invasão é a chegada das tribos hebraicas, lideradas por Josué. A sua instalação, no interior do território, gerou guerras com os Filisteus, que se recusaram a aceitar a religião hebraica.

Parece, então, que tudo terá começado, não por uma questão de território, alimento ou água, mas por uma questão tão estúpida como é a religião e a sua imposição a outros povos (desculpem-me a franqueza, mas os cristãos também têm culpas no cartório com as suas missões e missionários).

A faixa de Gaza é, actualmente, uma reminiscência do que seriam os territórios históricos da Palestina antes da apropriação por parte desses sem-terra pós Segunda Grande Guerra, que foram os judeus. Logo após a criação, por decreto, em 1946, do estado de Israel, este povo começou a roubar território aos países vizinhos, atitude que mantém até aos dias de hoje. Para tal criou colonatos e, como é óbvio, gerou raiva, revolta e vontade de vingança nos povos que assaltou e humilhou. Gaza é um dos locais da Palestina com a maior densidade populacional do planeta – 1,4 milhões de habitantes numa área de 360 km². Vivem, encravados a Leste e a Norte com Israel e a Sul com a península do Sinai, Egipto. Empobrecidos e humilhados, sem nada a perder, aquele povo entrega os seus filhos a radicais islâmicos, os quais acabam por morrer pelas armas dos soldados israelitas ou fazem-se explodir em autocarros ou centros comerciais no coração de Israel. A tentativa de imposição de um governo-fantoche por parte dos americanos e israelitas na Palestina saiu gorada, com a eleição, democrática, do Hamas para conduzir os destinos deste país, que nunca foi reconhecido pela potência ocupante. Nos últimos oito anos os rockets artesanais, cegos, do Hamas foram irritando os israelitas, tendo feito pouco mais de duas dezenas de mortos entre os civis. O copo da paciência israelita transbordou e agora, em poucos dias de invasão, Israel, cobardemente, usando de uma força desproporcionada, tem vindo a eliminar, de uma forma sistemática e indiscriminada, um povo, à força de mísseis e bombas, dizendo à comunidade internacional que pretende eliminar os radicais do Hamas, mas atacando missões da ONU, escolas, mesquitas e hospitais. Parece ignorar que, segundo a máxima, “olho por olho, dente por dente”, por cada palestiniano que Israel eliminar, perfilar-se-ão familiares e amigos deste, que perpetuarão a guerra, a não ser que, à semelhança do violador que foi, na infância, violentado, os judeus israelitas pretendam aplicar a Solução Final aos palestinianos, com a conivência da comunidade internacional.

Parece-me que, com propriedade, a palavra holocausto, do grego antigo, “todo+queimado”, pode, também, ser usada como referência ao extermínio destes milhares de palestinianos, extermínio esse, executado de forma deliberada e maciça.

À data destas linhas, Israel declarou um cessar-fogo unilateral – uma paz podre. Bastará um traque de um pobre palestiniano para alegarem violação do cessar-fogo e voltarem a entrar para desmontar e matar o que falta. Que me perdoe António Ferreira, (O Interior 15/1/09, p.5) mas parece-me que na sua história acerca de um cão revoltado de nome, Hamas, falta um cão abusador, de raça Pitbull, chamado Israel, que, apesar de já há muito tempo lhe roubar água, comida e território, um dia o matou, na sua casota, pelo que o Hamas nunca terá chegado a levar a vossa “timberlandada”.

Por: José Carlos Lopes

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