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«Hoje em dia os bancos estão reféns dos seus depositantes»

Cara a Cara – Cristina Casalinho

P – Qual a importância de falar para futuros economistas e gestores numa altura de crise?

R – Não acho que haja nenhuma importância especial.

P – Com as medidas impostas pelo Governo, considera que há possibilidades do país se endireitar, uma vez que se tem cortado nos salários e não há apoios à criação de riqueza?

R – Sim, há sempre a possibilidade do país se endireitar.

P – É da opinião que seria preferível nivelar a taxa de IVA nos 19 por cento em vez de ter alguns bens e produtos a 23 por cento e outros em taxas intermédias de 6 e 13 por cento?

R – O que nós vemos é que os casos de introdução de taxas únicas são exemplos que têm sido bastante bem sucedidos.

P – Acha que seria preferível adotar essa taxa única para Portugal?

R – Acho que sim. Os sistemas fiscais mais simples tendem a obter melhores resultados desde que eles estejam corretamente definidos. Agora, a questão dos 19 por cento face às alterações que agora foram produzidas podiam não originar o mesmo nível de receita. O IVA a 19 por cento pode ser pouco para gerar o mesmo nível de receita, daí ser necessária alguma cautela. Não creio que para o nível de arrecadação que hoje se consegue com o IVA com estas alterações seja correspondente a uma mudança para os 19 por cento.

P – Qual o impacto que esta recessão poderá ter no interior do país?

R – O impacto da recessão nesta região será semelhante ao resto do país com questões acrescidas que têm a ver com o facto de haver maior número de pequenas e médias empresas em termos relativos no interior do que nas zonas litorais. Isso pode, de alguma forma, provocar um maior agravamento. Outra coisa que também tem a ver é, por exemplo, o nível de envelhecimento da população, que é um problema que tende a ser mais acentuado no interior e com a diminuição de alguns apoios sociais.

P – Acha que neste momento a maioria dos portugueses está refém dos bancos?

R – Não. Eu acho que hoje em dia os bancos estão reféns dos seus depositantes e sobretudo dos particulares que detêm crédito à habitação.

P – A relação entre os bancos e os portugueses vai mudar no futuro com esta situação de crise?

R – Vai ter que mudar porque, basicamente, os portugueses têm que saber que vão ter que poupar mais, quer as empresas, quer os particulares. Os projetos têm que ser muito mais financiados com a participação de capitais próprios. As empresas portuguesas, a par das espanholas, são as que têm níveis de endividamentos mais altos do mundo e isso é um enquadramento que tem que ser alterado.

«Hoje em dia os bancos estão reféns dos seus
        depositantes»

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