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Hipotecar o futuro de Trancoso*

Em tempo de crise, quem paga sempre é o mais fraco. (…)

Num momento em que tanto se fala de crise, se prevê um corte na transferência de verbas no Orçamento de Estado para os municípios na ordem dos 5% e, consequentemente, as Câmaras Municipais, em geral, vão ter menos verbas para as suas despesas correntes e de investimentos, a autarquia de Trancoso apresenta-nos um orçamento bem superior ao de 2010, com 29.849.602€, dos quais 8.793.980€ em despesas correntes e 21.055.622€ para as despesas de capital. É obra!

Sabemos que, mais cedo ou mais tarde, as facturas vão aparecer e terão de ser pagas. Entendo, por isso, tratar-se de um orçamento “ofensivo” para quem o lê, para quem o analisa e para os trancosenses em geral. É um orçamento empolado, irrealista e incapaz de reparar todos os erros que esta maioria na Câmara Municipal tem cometido, ao não considerar o preocupante grau de endividamento em que o Município, agora, se encontra.

Os investimentos recentemente realizados por exorbitantes quantias, no âmbito da PPP, terão de ser pagos pelas futuras gerações. (…)

Se às obras prometidas já no mandato anterior (cinco museus para a cidade, remodelação do mercado municipal, reabilitação dos Paços do Concelho, zonas industriais…), todas elas por concretizar, juntarmos ainda o elevado grau de endividamento desta autarquia – nomeadamente empréstimos de médio e longo prazo contraídos de 1999 a 2005, ainda superiores a 5.800.000€ ; dívidas a terceiros que, no final de 2009, eram já de 6.580.000€ e ainda os encargos mensais com os custos das três obras realizadas no âmbito da PPP – concluiremos que esta maioria hipotecou completamente o desenvolvimento futuro do concelho de Trancoso.

(…) A declarada intenção de avançar com um plano de saneamento financeiro consubstancia o claro reconhecimento do falhanço das políticas desta maioria, senão mesmo a manifesta ausência dessas mesmas politicas. Este orçamento e plano de actividades resumem-se assim a uma só medida: Contrair divida para pagar divida! E assim se hipoteca o futuro dos trancosenses. Como pode o PSD falar de estratégia quando reconhece no documento explicativo das Grandes Opções e Plano de Investimentos para 2011 que a Câmara só ainda não entrou no caos e desastre financeiro graças à decisão de concessionar o sistema de abastecimento de água e saneamento às Águas da Teja!

(…)

Onde está, finalmente, essa credibilidade quando um presidente da Câmara se permite gastar mais em 2011 com o seu gabinete pessoal, do que o montante resultante da redução da taxa variável de participação de IRS do município, e isto num ano de especial sacrifícios e dificuldades que se pedem aos portugueses! (…)

Numa coisa tem razão Sr. Presidente da Câmara, estamos cansados. Cansados de o ouvir falar na aposta no turismo, no comércio e nos serviços e que essas apostas não passem da retórica.

* título da responsabilidade da redacção

Maria Clara Correia, Vila Franca das Naves (Trancoso)

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