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Heróis do martelo

Observatório de Ornitorrincos

Nos últimos tempos, Portugal tem descoberto semanalmente novas portugalidades. Em catadupa, o povo português tem vindo a ser chamado para assumir novos motivos de indignação e orgulho pátrios. Como se fossem pequenos Ultimata Ingleses todas as semanas. Ao melhor défice de sempre há quem franza o sobrolho. Contra o Conselho de Finanças Públicas, marchar, marchar. O FMI avisa sobre os riscos da recapitalização da banca. Pela Caixa lutar.

A semana passada, os portugueses foram atiçados contra um holandês protestante que tem má opinião de quem gasta dinheiro em álcool e mulheres. É um problema dele. Cá dentro, a guerra contra o holandês não teve tréguas. É um problema nosso. Se o Facebook e o Twitter tivessem som, o presidente do Eurogrupo não teria conseguido dormir.

Quando alguém diz um disparate, é sempre mais interessante ver a reacção de quem o ouve do que dar atenção e respaldo ao que foi dito. A revolta das elites da passada semana foi, além do mais, contra uma metáfora que só podia sensibilizar e indignar o orgulho de ser português.

Um país que ocupa um dos primeiros lugares na tabela mundial de consumo de álcool e tem uma região demarcada de vinho na lista do património cultural da humanidade não pode aceitar que um calvinista nos venha chamar borrachões. Era o que faltava. Bêbedos sim, mas com muita dignidade.

E a fúria da esquerda, tão revoltada que levou ao Parlamento um voto de protesto, com o machismo da expressão “gastar dinheiro em mulheres” não pode ter sido pela ideia de que as mulheres são objectos compráveis, porque é a mesma esquerda que quer profissionalizar a prostituição e considera aceitável o Estado recolher receitas fiscais dessa actividade. Evidentemente, considerar o sexo uma transacção comercial e quem o pratica, um operário, é progressista. Provavelmente a indignação foi contra o moralismo de Dijsselbloem que levaria muitos homens e mulheres ao desemprego.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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