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Há volta

Observatório de Ornitorrincos

No último domingo acabou a Volta a Portugal em bicicleta, com a vitória de um espanhol. Não me surpreendeu nada porque os espanhóis já estão muito habituados a vir dar umas voltas a Portugal. Também a Volta a França deste ano foi ganha por um estrangeiro. Lance Armstrong, vencedor pela sexta vez consecutiva, sucedeu assim a Greg LeMond (em 1986, 1989 e 1990) e ao exército (em 1945) na categoria de “americano que chega vitorioso a Paris à frente dos franceses”.

Não se julgue por este começo que o ciclismo me interessa. Este ano acompanhei as novas do Tour apenas para saber se Armstrong conseguia o sexteto e se continuava noivo de Sheryl Crow, mesmo só tendo um testículo (Lance, não Sheryl; desta desconhece-se quantos testículos alberga). O ciclista ganhou a prova e vai agora casar-se com a cantora. Com estes exemplos de arrogância imperialista dos americanos não admira a facilidade com que o anti-americanismo se difunde pelo mundo.

O que mais me intrigou durante a Volta a Portugal deste ano foi Elsa Raposo, relações públicas da prova, não se ter declarado publicamente muito apaixonada por dois ciclistas – um durante a primeira metade, outro para as últimas cinco etapas da corrida. Ainda assim, Elsa manteve velhos hábitos durante a Volta. A apresentadora do “Sex Appeal” viajava num carro da organização, e tal como acontecia durante os seus noivados, era a modelo que acabava primeiro.

O ciclismo, para os leitores menos conhecedores das diversas modalidades, é aquele desporto em que os corredores depilam as pernas, usam uns calções muito justos, sentam o rabo num selim anatomicamente duvidoso durante quatro horas por dia e no fim das etapas, já cansados, abrem o fecho das camisolas e acabam a prova com o peito à mostra. É fácil perceber por que alguns profissionais, durante a paragem de Inverno, fazem uns biscates como strippers no Kings & Queens. Não só ganham algum dinheiro extra como não lhe perdem o jeito.

Para escrever este artigo, fui, qual José Sócrates, ao dicionário de citações da Oxford à procura de ditos famosos sobre o desporto velocipédico. Nada. Nem uma palavra, uma frase ou um dito espirituoso. Aristóteles, Schopenhauer, Kierkegaard ou Lao-Tsé nunca disseram nada que ficasse para a posteridade sobre ciclismo. Marco Chagas ou Manuel Zeferino, bastante prolixos e muito entendidos sobre o assunto, não constam das entradas do dicionário, situação a rever pela Oxford University Press em futuras edições.

Nos Jogos Olímpicos, que começam amanhã, também há ciclismo, onde os corredores usam um chapéu com o bico para trás e fazem corridinhas às voltas dentro de um pavilhão. Numa das provas, dois ciclistas dão uma data de voltas à pista, muito devagarinho, a olharem constantemente um para o outro, para depois, nos últimos 100 metros desatarem a pedalar com quantas forças têm. Esta prova deve constar das Olimpíadas da ILGA. Mas nos Jogos também há modalidades em que os homens ficam muito agarradinhos (como a luta greco-romana – vejam-se as influências!) e outras em que ginastas rebolam pelo chão com fatinhos muito apertados. Felizmente, o Tiro com Armas de Caça (tiro aos pratos), o Pentatlo Moderno, a Esgrima (a Espada e o Sabre) e o Boxe ainda são modalidades olímpicas. O resto é desporto para meninas.

EU VI UM ORNITORRINCO

John Kerry

É o mais rico dos quatro homens dos dois tickets presidenciais americanos e membro da aristocracia da Nova Inglaterra. Faz parceria com o mais populista de todos eles. A esquerda diz que gosta. O ódio a Bush é tão grande que os arautos do socialismo (mais ou menos democrático) estão eufóricos com a possível vitória de um homem que representa muito daquilo que a esquerda europeia sempre repudiou.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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