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«Há uma maior intolerância face ao fenómeno da violência doméstica»

Cara a Cara – Graça Rojão

P- Quais os principais objetivos da CooLabora?

R- A CooLabora quer contribuir para o desenvolvimento da região através de intervenções centradas na promoção da igualdade de oportunidades, no estímulo a iniciativas de economia solidária e na inclusão social de grupos mais vulneráveis, sobretudo de crianças. As nossas características mais distintivas estão na aposta em metodologias que estimulam a participação cívica, a busca de soluções inovadoras para problemas sociais e o envolvimento em redes e parcerias que fomentam a aprendizagem colaborativa e a concertação de esforços.

P- Que projetos estão a desenvolver?

R- Estamos a desenvolver uma iniciativa em resposta aos problemas da precariedade e do desemprego jovem – a IDEARIA –, que é um laboratório de aprendizagem de competências ligadas à criatividade, à inovação, ao empreendedorismo dos jovens. É um projecto em parceria com a Câmara da Covilhã, o Teatro das Beiras e a UBI, financiado pelo programa Cidadania Ativa/ EEAGrants. O Troca a Tod@s é também um projecto no âmbito da economia solidária que envolve cerca de 35 “prossumidores” (produtores e consumidores) e muitas organizações locais. Tem por base uma moeda social, o Tear, e promove a aquisição em rede de produtos e serviços oriundos da economia local. É também uma ferramenta prática de sensibilização para os impactos económicos das nossas decisões de consumo. Na promoção da igualdade de género, a CooLabora está a implementar o projeto “Género Coolectivo” que conta com círculos de mulheres que se reúnem em bairros e coletividades da cidade para autoformação, discussões temáticas e organização de ações coletivas. O “Género Coletivo” tem ainda uma vertente de teatro participativo, que envolve dois grupos dinamizados pelo Teatro das Beiras. Aposta igualmente na formação em liderança e acção política para mulheres, que visa trazer mais mulheres para a esfera pública. Este projecto, realizado em parceria com o Teatro das Beiras, é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. O projecto “Violência Zero”, já com vários anos de vida, destina-se à prevenção e combate à violência doméstica e de género. Conta com o Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica, com a Rede Violência Zero e assume a coordenação do Plano Municipal de Prevenção e Combate à Violência. Esta parceria permitiu criar uma forte rede de apoio às vítimas em áreas tão sensíveis como a proteção jurídica, a segurança, a habitação, o emprego, a saúde, entre outras. Por último, temos ainda o “Quero Saber +”, em parceria com a Escola EB 2/3 do Tortosendo e várias outras organizações, para promover a inclusão social de crianças e jovens do Tortosendo especialmente vulneráveis e em risco de abandono ou de insucesso escolar. Tem uma lógica de acção muito intensiva em actividades que vão desde o centro de inclusão digital e a formação TIC, o apoio ao estudo, a mediação familiar, etc. Esta iniciativa é financiada pelo programa Escolhas.

P- Recentemente divulgaram os números da violência na região, como comenta estes dados?

R- Os dados que divulgamos e o acréscimo na procura dos serviços de apoio a vítimas de violência doméstica são muito positivos. Revelam que há cada vez mais pessoas a romper com os círculos de violência em que se encontram e a construir uma vida onde a sua dignidade é respeitada. A informação de que dispomos não aponta para o crescimento da violência mas sim para uma maior intolerância face ao fenómeno. A frase “entre marido e mulher ninguém mete a colher” felizmente está cada vez mais obsoleta. 

P- O que ainda falta fazer para que os casos de violência doméstica diminuam?

R- A violência doméstica tem as suas raízes mais profundas nas desigualdades estruturais entre homens e mulheres. Falta, portanto, aprofundar as políticas públicas que apostam na igualdade efetiva. Por outro lado, falta também apoiar de forma séria as organizações não-governamentais que promovem a mudança de mentalidades e o apoio directo a vítimas. Nos últimos tempos estas organizações, nomeadamente as que possuem (ou possuíam) gabinetes de apoio a vítimas de violência, têm sofrido quebras drásticas no seu financiamento e vivido num quadro de insegurança e indefinição face ao futuro. Por exemplo, o pacote financeiro europeu para o período 2014-2020, que é o alicerce fundamental da maioria destas organizações, continua indisponível em Portugal, não obstante os sucessivos anúncios formais de abertura feitos pelo Estado.

P- Acredita que os pedidos de ajuda ainda são muito inferiores aos casos de violência? Como alterar esta situação?

R- Sim, são dramaticamente inferiores. Estudos muito consistentes, nomeadamente da Agência de Direitos Humanos da EU, estimam que uma em cada três mulheres seja vítima de violência. A face visível destes números na procura de apoio ou na apresentação de queixas fica muito aquém. No ano passado, as participações às forças de segurança relativas a este crime foram apenas de 3 por cada mil habitantes (cerca de 27 mil participações por ano). Os/as jovens e as pessoas idosas são grupos que tendem a recorrer menos aos serviços de apoio e ou a apresentar queixa. É por isso importante direcionar as acções de informação e sensibilização para estes grupos, de forma a incrementar o seu acesso. Todos e todas temos a responsabilidade de contribuir para a mudança de mentalidades para que sejamos menos tolerantes com este problema. 

P- Têm também um programa conjunto com os alunos da UBI, o “UBICool”, no que consiste?

R- A CooLabora dinamiza o UBICool, que desafia os/as jovens universitários a realizarem actividades de promoção da igualdade e de uma cultura de paz e não-violência em contextos escolares. A intervenção centra-se na dinamização de jogos pedagógicos e sessões sobre temas como o “bullying”, violência no namoro e a resolução não-violenta de conflitos. Atualmente estão implicados 5 agrupamentos escolares e mais de meia centena de estudantes da UBI.

P- Como e quem pode cooperar com a “CooLabora”?

R- A CooLabora é uma cooperativa aberta, que se envolve muito ativamente com as redes de organizações do território e do país. Podem colaborar connosco as pessoas que se revejam nos nossos valores, aceitem o nosso código de ética e se identifiquem com as nossas iniciativas.

Graça Rojão

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