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«Há menos pessoas a poder dar, mas quem pode acaba por ser mais generoso»

Cara a Cara – Entrevista: Paulo Pinheiro

P – Qual o balanço que faz da última acção do Banco Alimentar Contra a Fome?

R – O balanço é muito bom. Fizemos um novo recorde ao nível das recolhas, que ultrapassaram as 45 toneladas. Estamos muito satisfeitos porque o valor ficou acima das nossas expectativas e vamos conseguir um bocadinho mais do que à partida se faria com os valores que estávamos a contar angariar. É sempre muito animador para quem está a organizar uma campanha.

P – Vivendo o país uma época de crise, como justifica este valor recorde ao nível da angariação de alimentos?

R – Em alturas de crise há mais gente a negar contribuir, mas depois os sacos vêm mais cheios das pessoas que contribuem. Infelizmente, há menos pessoas a poder dar, mas quem pode acaba por ser mais generoso. Há toda uma solidariedade que se gera, as pessoas depositam confiança em nós para ajudarmos os outros.

P – Quantas pessoas participaram nesta acção?

R – Foram cerca de 400 pessoas, o que também é um número muito bom, porque nós somos um Banco Alimentar relativamente pequeno, mas conseguimos uma forte mobilização. O número aumentou por termos aberto mais duas lojas no Sabugal, mas também não se pretende que as equipas cresçam muito para não incomodar as pessoas que estão a fazer compras. Só continuamos a aceitar voluntários para o armazém, onde não há mãos a medir.

P – E quantas pessoas vão beneficiar desta iniciativa?

R – Cerca de 4.000 pessoas, das quais cerca de 800 crianças. Infelizmente têm vindo a aumentar os pedidos de ajuda, mas nós não temos podido responder a todos. Talvez com esta angariação possamos ajudar mais uma ou duas instituições, mas temos muitas em lista de espera.

P – Nesse sentido, pode-se dizer que há uma tendência para o aumento do número de pessoas a necessitarem deste tipo de ajudas?

R – Há. A crise não é um problema da televisão, ela é real. O desemprego está a aumentar na nossa região, talvez mais do que no resto do país. No entanto, a maioria das pessoas que sai para o desemprego ainda consegue contar com a “bengala” do subsídio, que consegue cobrir algumas dificuldades nos primeiros tempos. O grande problema é quando essa “bengala” acaba. O que nós sentimos é que não vamos ter capacidade de estender muito mais as nossas ajudas. Mesmo 45 toneladas a dividir por cerca de 4.000 pessoas dá à volta de 10 quilos de alimentos, o que é muito pouco. Aí é fácil compreender que é aflitivo o pouco que o Banco Alimentar consegue fazer, e isso exige que esta região acorde para lutarmos todos por um futuro melhor.

P – Que outras acções ou projectos estão já previstos para o futuro?

R – Esperamos transferir o actual armazém para outro com melhores condições, o novo edifício já nos foi cedido pela REFER e faltam-nos as obras para o adaptar às necessidades de um armazém onde se guardam alimentos. Temos também que adquirir uma câmara de frio para podermos ter alimentos frescos, entre outros equipamentos mais simples.

Paulo Pinheiro

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