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«Há casos de flagrante oportunismo de investimentos públicos na cultura»

Cara a Cara – Entrevista: José Alexandre Barata

P – Que balanço faz da última edição do festival TeatroAgosto?

R – O balanço é francamente positivo. Uma média de 99 espectadores por espectáculo prova que o público já transformou o TeatroAgosto num festival obrigatório na região. A acrescentar a isso podemos dizer que a programação deste ano foi talvez a mais equilibrada de sempre, com espectáculos de grande qualidade. Apesar desta constatação positiva pensamos que após cinco anos de existência é necessário reflectir muito bem quanto à sua continuação e evolução. A dificuldade em encontrar apoios significativos, nomeadamente do Ministério da Cultura impedem que o Festival dê passos decisivos para o seu crescimento e estruturação.

P – Há algo que destaque especialmente?

R – A adesão do público, o espectáculo de Khalid K.,“Tour du monde en 80 voix”, que foi estreia em Portugal e o reconhecimento por parte dos artistas presentes da validade deste projecto.

P – Quantas pessoas assistiram ao festival?

R – Foram 594 bilhetes vendidos para seis espectáculos, que servem para calcular a média por espectáculo (99), sendo que nos dias 18 e 19 a EsplanadaAgosto funcionou com entrada livre, sendo difícil de calcular exactamente quantas pessoas estiveram presentes nesses dias.

P – Esses números superaram ou não as expectativas?

R – Estes números não superam as expectativas, mas também não as defraudam, pois as médias de anos anteriores andaram sempre perto dos 100 espectadores por espectáculo.

P – Houve muito público de fora do Fundão?

R – Um dos objectivos do TeatroAgosto é a sua projecção a nível nacional. Para o conseguir teríamos de obter meios financeiros para tornar o festival visível em termos publicitários e isso não tem sido possível. Assim, o afluxo de público de fora da região (distrito de Castelo Branco) é residual e pontual. No entanto, a sua projecção junto do meio artístico tem vindo a crescer e um exemplo foi a Master Class de Mimica que reuniu no Fundão 11 actores oriundos de outras regiões.

P – Quer fazer deste festival, um dos maiores do país. O que pensa que é preciso para o alcançar?

R – Neste momento falar no TeatroAgosto como um dos maiores do país, não é um objectivo mas um sonho. Um sonho que até poderá ser realidade, um dia, mas com o qual não estamos obcecados. Temos os pés bem assentes na terra e sabemos o esforço financeiro e o investimento em termos humanos e materiais que seria necessário reunir. Ora, se a Direcção Geral das Artes desde 2007 não responde positivamente às nossas candidaturas, apesar de encontrar sempre os mais rasgados elogios para as caracterizar, como é que neste momento podemos estar optimistas em relação ao futuro? Como disse anteriormente, o momento é de reflexão, pois para além da Câmara do Fundão e das companhias de teatro participantes, não temos outros apoios significativos que justifiquem as incertezas e dúvidas em cumprir as nossas obrigações e o esforço de uma equipa que todos os anos trabalha por amor à camisola.

P – Já há novos projectos em perspectiva para o TeatroAgosto?

R – Projectos não faltam, mas como disse anteriormente o momento é de reflexão. Se decidirmos continuar, será na certeza de podermos evoluir.

P – Como vê a cultura no Interior do país?

R – Apesar de registar alguns desequilíbrios, nomeadamente no tocante a investimentos na criação e programação por parte do Estado, penso que a oferta e produção cultural na região tem vindo a crescer. Estamos longe de uma situação ideal mas a verdade é que tem sido o esforço de meia dúzia de estruturas e pessoas ligadas ao fenómeno cultural que tem vindo a conseguir inverter lentamente a realidade pobre e deprimente que se registava na região há alguns anos. Apesar de tudo, há casos de flagrante oportunismo e de falta de solidariedade de investimentos públicos na cultura que continuam a existir e que em pouco ou nada servem a região e o enriquecimento cultural e intelectual da comunidade onde se inserem.

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