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«Há cada vez mais solicitações para apoio alimentar»

Cara a Cara – Entrevista

Perfil:

– Catarina Caldeira

– Coordenadora do Centro Comunitário das Portas do Sol

– Naturalidade: Covilhã

– Idade: 28 anos

– Profissão: Socióloga

– Curriculum: licenciada em Sociologia pela UBI e socióloga na Santa Casa da Misericórdia da Covilhã

– Hobbies: passear, sair com os amigos, ficar em casa e ler

P-Quando surgiu o Centro Comunitário Portas do Sol?

R-Surgiu em 2000, com o término do Projecto de Luta Contra a Pobreza “Centro Histórico da Covilhã” ou o chamado “Portas do Sol”, devido à zona onde intervinha. Para continuarmos as acções desenvolvidas, criamos uma estrutura que é este centro comunitário. Ao longo dos três anos de projecto, que foi bastante aliciante e tivemos muitos resultados, elaboramos uma nova candidatura de Luta Contra a Pobreza (o Reagir), mas para uma área de intervenção mais alargada, nomeadamente as freguesias de Santa Maria e de S. Martinho.

P- Quais as áreas em que intervêm?

R-Como conhecíamos melhor o terreno, sabíamos as áreas mais carenciadas, que é a nível do emprego. Por isso, criámos um Clube de Emprego para inserir as pessoas em empregos ou em cursos de formação profissional. O “Reagir” é também inovador na infância, onde temos um ATL, “Os Raios de Sol”, aberto de segunda a sexta-feira e durante as férias escolares, e temos ainda um projecto de realojamento, que surgiu através da recuperação de 10 habitações no Bairro da Alegria. O senhorio autorizou-nos a recuperar as casas e a estabelecer a renda de 40 euros mensais, que se mantêm durante cinco anos. Esta foi a forma de responder à solicitação de recuperar habitações bastante degradas, mas que não eram possíveis de serem recuperadas. Outra valência é o apoio domiciliário aos idosos da freguesia de Santa Maria, através do projecto “Bem Me Quer”, onde temos duas pessoas a trabalhar connosco. É um complemento do apoio domiciliário tradicional, pois o que pretendemos é fazer companhia, realizar compras ou tratar a documentação. Numa perspectiva de dar continuidade a este projecto, entregamos uma candidatura para esse apoio se generalizar pelas quatro freguesias da cidade.

P-Que balanço faz após estes anos de trabalho?

R-É bastante positivo. É um trabalho que tem que ser feito gradualmente, pois tratam-se de mudanças de comportamentos e de modos de vida. Parece fácil a pessoa adaptar-se a essa mudança, mas não é bem assim. É um processo que tem os seus sucessos, mas são pequenas vitórias, o que por vezes nos desanima. Estamos a falar de pessoas que pensamos que estão com vontade de mudar a sua vida, mas depois revela-se o contrário. Mas gosto deste tipo de trabalho, pois estamos a lidar com o ser humano e é importante sabermos que, pelo menos, estamos a contribuir para a mudança.

P-Acha a Covilhã uma zona critica de pobreza?

R-Há de facto zonas problemáticas, mas no centro da cidade há uma pobreza escondida, pois as pessoas envergonham-se de pedir ajuda. São casos de pessoas que têm fracos rendimentos e algumas rendas são muito elevadas para casas minúsculas e degradadas, ou a população é muito idosa com reformas extremamente baixas que gastam o dinheiro nos medicamentos.

P-A situação agravou-se com o encerramento das empresas da região?

R-O que sei é que há cada vez mais solicitações para apoio alimentar e tem havido uma maior procura deste projecto, principalmente de pessoas que estão desempregadas.

P-O “Reagir” termina agora em Dezembro. O que vai acontecer?

R-O Centro comunitário vai continuar a assegurar todas as acções desenvolvidas. A única que vejo mais dificuldades em continuar é a habitação, mas acho que também não é tão importante. Acho que compete a outras entidades fazerem intervenções nesta área, pois da nossa parte fizemos o possível.

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