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GX Guarda e CX Seia com perspectivas diferentes

As duas equipas do distrito integram lote das cinco melhores do país num momento de viragem do xadrez nacional

O último Nacional de Xadrez da Iª Divisão, que terminou no dia 10 com a vitória do Boavista, ficou marcado por um momento de viragem na modalidade ao mais alto nível em Portugal. Considerado o mais competitivo de sempre pela presença de xadrezistas estrangeiros de nível internacional nas dez equipas participantes, o torneio pode ter iniciado um novo ciclo no xadrez nacional. Disso não têm dúvida Vítor Leal, dirigente do Clube de Xadrez de Seia, quarto classificado, e António Ferreira, presidente do Grupo de Xadrez da Guarda, quinto, cujas opiniões divergem quanto ao impacto desta opção na modalidade no nosso país.

Vítor Leal, cuja equipa era apresentada como uma das sete candidatas ao título, não tem meias medidas: «O xadrez de alta competição não se compadece com amadorismos e por isso todas as melhores equipas nacionais apresentaram-se com nítidas melhorias qualitativas em relação ao ano anterior», refere, adiantando que neste autêntico campeonato de “Golias” os “Davides” têm cada vez menos espaço e quem não se reforçar corre o risco de ser despromovido. «Repetimos o quarto lugar de 2003, mas se tivéssemos apresentado a mesma equipa do ano anterior teríamos de certeza corrido o perigo de descer de divisão. Veja-se o caso do Núcleo de Xadrez de Faro que, partindo como candidato, acabou despromovido, ou do GX Guarda, bicampeão nacional, que, embora se tenha também reforçado, não conseguiu melhor que o quinto lugar», constata. O momento actual no topo do xadrez português é por isso de mudança, mas para se ser campeão há ainda que contar com mais alguma coisa para além de jogadores de nível. O CX Seia sentiu isso mesmo, já que a sorte parece ter faltado nos momentos cruciais e ditou três derrotas pela margem mínima frente à Académica, Boavista e Diana de Évora. Outro empate comprometedor com a Academia de Gaia deitou tudo a perder.

«Podíamos ter chegado à vitória na prova. Só que o peso da inexperiência colectiva de um jovem de vinte anos (o espanhol Manuel Candelario) no terceiro tabuleiro levou a perder esses encontros ao ficar demasiado cedo em apuros de tempo», adianta o dirigente, defendendo, apesar de tudo, que é por vezes necessário «arriscar» nos jovens nestas competições de topo. «De resto, esteve tudo normal», considera, olhando para as performances do cubano Lázaro Bruzón, primeiro tabuleiro em sete partidas, que liderou o “ranking” da prova e não deixou os seus créditos por mãos alheias ao ganhar quatro partidas e empatar três. Um resultado que lhe garantiu a melhor performance do torneio, com 2.658 pontos de ELO. Já os restantes (Alfonso Romero, António Fróis e Jesus Iruzubieta) ficaram «dentro das expectativas», valendo como consolação a segunda posição do CX Seia em termos de pontos no tabuleiro. «Portanto, globalmente, pode considerar-se uma participação muito positiva», conclui Vítor Leal, regozijando-se ainda com o facto de duas equipas do distrito da Guarda integrarem o lote das cinco melhores do país. «Em que outra modalidade desportiva é que isso acontece?», questiona, destacando, por outro lado, a proeza do CX Seia esta época nas três divisões nacionais e os títulos de jovens. «Fomos um clube a sério e pela primeira vez podemos afirmar, sem dúvida, que, em todos os aspectos e entre todas as modalidades, fomos o melhor clube distrital», garante.

GX Guarda repensa participação

No caso de António Ferreira e do Grupo de Xadrez da Guarda a perspectiva é diferente. Considerando que a prestação da equipa – a que alinhou com menos profissionais na prova – «não foi muito boa nem muito má», o dirigente prefere apontar baterias para a «vergonha da invasão» de jogadores estrangeiros e profissionais na principal competição nacional. «Assim não vão aparecer xadrezistas de grande nível em Portugal, que tem em Diogo Fernando o último dessa fibra e isso já foi há alguns anos», lamenta António Ferreira, para quem a formação nos clubes está em risco enquanto se apostar nesta política. «O Nacional da Iª Divisão é a melhor maneira dos jovens progredirem e a única oportunidade durante o ano para alguns jogadores portugueses praticarem a um nível superior», acrescenta. De resto, desfia o rol dos clubes que apostaram maioritariamente em xadrezistas estrangeiros e relegaram os portugueses para o banco dos suplentes para dizer que «assim não se vai a lado nenhum e está-se a comprometer o futuro do xadrez nacional, porque os portugueses não conseguem jogar na prova mais importante do ano no nosso país», acusa.

Como se não bastasse, alguns desses xadrezistas convidados «não conhecem as instalações dos clubes em que alinham durante apenas dez dias enquanto outros, como o Diana de Évora, nem sede tem», estranha António Ferreira, que considera existir uma «desvirtuação» da competição e da modalidade. Por tudo isso, o GX Guarda vai repensar a sua participação nos termos actuais, porque os seus dirigentes têm a noção de que «mais cedo ou mais tarde, vamos descer de divisão se não tivermos mais xadrezistas profissionais». Um passo que não querem dar, alegando que gastar o orçamento do clube para «financiar uma equipa durante dez dias é desbaratar dinheiros públicos» e pôr em causa a génese formativa da colectividade. Contudo, a vitória final do Boavista – «uma das equipas mais baratas da prova», refere – foi «uma lição» para os adversários que apostaram no estrangeiro, já que venceu com quatro profissionais portugueses.

Luis Martins

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