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«“Guerra” interna» entre Hospital da Guarda e Faculdade de Medicina

Questões financeiras exigidas pelos médicos na origem da suspensão das aulas de prática clínica de alunos da UBI no serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Sousa Martins

A diretora do serviço de Obstetrícia do Hospital da Guarda e o presidente da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior apresentam argumentos diferentes para justificar a suspensão da parceria que possibilitava aos alunos da instituição sedeada na Covilhã terem aulas de prática clínica naquela área do Sousa Martins. Às dificuldades de articulação entre a prática médica e a docência apresentadas pelo responsável pela Faculdade de Medicina, a obstetra contrapõe com razões de ordem financeira.

Confrontada com o facto dos alunos da Faculdade de Ciências da Saúde já não terem aulas de prática clínica no serviço de Obstetrícia e Ginecologia da Unidade Local de Saúde da Guarda, Cremilde Sousa adianta que «foi mais uma “guerra” interna entre nós e a UBI porque achámos que o contributo financeiro que a universidade nos dava era pior do que o que se paga a uma mulher a dias». A diretora do serviço salienta que, «se temos e prestávamos um serviço de qualidade, tínhamos que ser recompensados por isso», assumindo que a interrupção não aconteceu «por falta de disponibilidade». A especialista adianta que os médicos daquele serviço consideraram «que era irrisório o que recebíamos, era quase o que pago à minha mulher a dias e não tem a mesma responsabilidade que tínhamos», escusando-se a divulgar os valores em causa. O que refere é que eram quatro tutores na Guarda, tendo a decisão sido tomada em «outubro ou novembro do ano passado», sublinhando que a suspensão da parceria ficou a dever-se «única e exclusivamente a motivos financeiros».

Versão bem diferente tem o presidente da Faculdade de Ciências da Saúde, que esclarece que a suspensão na colaboração se aplica apenas nesta área e que se explica porque «os colegas, por vezes, atravessam maiores dificuldades em conseguir articular a prática médica com a docência». Taborda Barata refere que se optou por suspender a parceria «durante algum tempo e de forma transitória», declarando que os clínicos da Guarda, «enquanto colaboraram, sempre o fizeram da forma mais acertada e vestiram a camisola». Tratou-se de uma «decisão tácita, uma vez que não estavam reunidas as condições para dar sequência ao processo de acompanhamento dos nossos alunos e alguns profissionais de saúde alegaram falta de tempo para poderem tutoriar o trabalho realizado pelos estudantes e por isso entendemos que seria melhor refletir e encontrar novas estratégias para o futuro», afirma.

O professor, que preside à Faculdade desde fevereiro, realça também o número «cada vez maior de alunos», o que implicava uma «sobrecarga muito grande para se manter a qualidade do nosso processo de ensino-aprendizagem». De resto, encara a situação como um «fenómeno que tem elasticidade e relativamente natural», frisando que o Hospital da Guarda tem «uma colaboração a cem por cento com a Faculdade», pelo que assegura que «da nossa parte a porta está sempre aberta para voltarmos a ter alunos nesse serviço». Taborda Barata acrescenta que não acredita que esta interrupção esteja relacionada com uma eventual “represália” pela possibilidade da Covilhã poder estar à frente na corrida pela manutenção da maternidade: «Não posso afiançar as ideias de terceiros, mas não foi essa a informação que nos chegou, até porque são dois processos distintos», sustenta. A parceria foi interrompida no início do presente ano letivo e a alternativa encontrada foi redirecionar os alunos para o serviço de Obstetrícia do Centro Hospitalar da Cova da Beira.

Ricardo Cordeiro Parceria foi interrompida no início do presente ano letivo

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