Quer respostas concretas para a geringonça inglesa, para a influência dos piratas russos no Qatar ou para decifrar os resultados das eleições da maçonaria? No mundo em que Isaltino Morais e Valentim Loureiro aparecem reabilitados para a corrida autárquica, para gáudio do retalho dos eletrodomésticos, nada nos deve espantar. Mas não podendo ter respostas válidas para tudo, devemos focar-nos naquilo que nos é mais próximo. Poderá, por exemplo, tentar responder a esta questão: Onde e quando foi conquistada uma Câmara Municipal ao PS, se arrebatou o coração de uma geração de jovens, se arrastaram holofotes da TV prometendo colocar a cidade no “mapa”, ou no radar, se investiu em slogans e logótipo, e querendo dar um ar de capitalidade europeia, se promoveu a reabilitação urbana e os eventos, ou festas, como principais motores da economia?
Se respondeu Guarda 2013/2017 nunca receberá da Lenka do “Preço Certo” a grande montra de prémios. Apesar de começar por G a resposta situa-se noutra vertente da serra. O snowboard e o BTT deram à “Capital da Aventura” muita parra e pouca uva, já que passados que foram 12 anos de governação, de 2001 a 2012, Gouveia perdeu 14% dos habitantes, é um dos concelhos mais envelhecidos do país e do distrito e a visibilidade nacional que se prometia eterna não passou de uma projeção ao nível de estrela de “Casa dos Segredos” ou míssil norte-coreano, fulgurante no início, pouco durador e esquecido no presente.
Apostar na mesma fórmula, falhada, de sustentabilidade económica e demográfica para um concelho e esperar um resultado diferente é fazer dos habitantes da Guarda adeptos do Arsenal, que, há 20 anos sem ganhar, recebem o mesmo treinador, Arsène Wenger, com as mesmas táticas e que começa o ano a dizer “este ano é que é”. Uma prova de fé que cada um deveria submeter ao escrutínio da ciência antes de ser professada em urna. A Guarda não deve estar confiante, a Guarda deveria estar Desconfiada do Futuro.
Todos esboçámos um sorriso ou até uma grande gargalhada pelas declarações de Paulo Futre envolvendo jogadores de futebol, voos charter e chineses, pela simplicidade com que se demonstravam as relações de causa/efeito entre os elementos, mas vejo muitas palmas e pouca reflexão honesta quando se justificam todas as festas, ou eventos, num simples eventos puxam pessoas, pessoas trazem dinheiro e “Puff” temos economia e emprego. Aqui ninguém se ri de tão redutora explicação e ainda leva com um “sócio, estou aqui concentradíssimo a tentar que Coimbra alavanque a região para que a Guarda possa arrancar”. Mas porquê Coimbra e não Viseu? A liderança é decretada por alguém ou exige trabalho? Porque não a Guarda? Será o novo lema, Guarda Confinante?
Desse acomodamento podemos concluir que, no geral, adoramos propaganda, sebastianismos e autoridade. Já António Ferro explorava bem o filão. Mas ao fazê-lo, ignoramos os pés de barro de quem adoramos e levamos em ombros sem vacilar. Um dia, sem saber muito bem como, já estamos de cachecol negro ao pescoço a elogiar e achar normal a nova medida do Simplex III – o novo Pro Evolution Mayor 2017 para uma governação à distância de um comando de Playstation.
Quanto aos Nostradamus da cidade, que tentam por fórceps fazer o parto das suas profecias, estão a milhas dos Ornatos Violeta na sua ode aos cartazes do “Guarda Renasce”, uma relação essa sim assustadoramente profética. «A cidade está deserta e alguém escreveu o seu nome em toda a parte: Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas. Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura, ora amarga! ora doce! Pra nos lembrar que o Amar é uma doença, Quando nele julgamos ver a nossa cura!».
Por: Pedro Narciso