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Guarda com menor número de utentes sem médico de família de todo o país

Coordenadora da Sub-região de Saúde garante que clínicos fazem 42 horas semanais em vez de 35

O distrito da Guarda tem o menor número de utentes inscritos sem médico de família em todo o país. Estes números, fornecidos pelo Ministério da Saúde, agradam a Emília Pina, coordenadora da Sub-região de Saúde da Guarda, que salienta ainda que uma parte dos utentes dos Centros de Saúde do distrito que não têm médico de família estão nessa situação porque «mais lhes convém», visto não integrarem o Serviço Nacional de Saúde.

Segundo os dados do Ministério da Saúde, mais de um milhão e duzentos mil portugueses não têm médico de família, sendo que mais de metade dos mesmos se encontram concentrados nos distritos de Setúbal, com 22,5 por cento, Porto, 17, Faro, 15,2, Lisboa, 12,9, e Braga, 12,8. Quanto à Guarda, representa apenas 1,9 por cento do contexto nacional, enquanto que Castelo Branco é o seu “companheiro” mais próximo nesta boa média, com 3,5. «Fico satisfeita com estes números porque há uma boa resposta dos médicos, para além de um trabalho consciente e bem distribuído», realça Emília Pina. Uma das razões para a Guarda ser o distrito com maior número de médicos por utente é o facto da maior parte dos profissionais do Centro de Saúde da Guarda, aquele que apresenta maior número de utilizadores do distrito, estar a trabalhar «em regime de dedicação exclusiva», o que na prática significa que «em vez de fazerem 35 horas semanais, fazem 42». Desta forma, em vez de terem 1.500 utentes, os médicos passaram a ter cerca de 2.000, com o intuito de «não terem utentes em lista de espera», frisa. A cidade mais alta tira ainda partido de, neste momento, ter três profissionais espanhóis a contrato, sem os quais «haveria listas de espera», sublinha a coordenadora da Sub-região de Saúde da Guarda.

Quanto ao futuro, este «afigura-se feliz», porque a Guarda possui actualmente nove «internos» a fazer a especialização em medicina familiar e que no prazo de dois a três anos têm «fortes probabilidades de poder ficar no quadro», adianta. Contudo, Emília Pina manifesta «alguma preocupação» por os médicos do país vizinho poderem ir embora, «de um momento para o outro», deixando o Centro de Saúde da Guarda com falta de profissionais. Segundo a coordenadora, a «grande maioria» dos 1,9 por cento registados no distrito verificam-se em Seia, onde existem cerca de 800 utentes sem médico de família por haver escassez de profissionais. Contudo, foi criado um sistema de «atendimento de recurso» que funciona à tarde para os utentes que não têm médico de família. De resto, há utentes inscritos, principalmente na Guarda, que não têm médico de família, mas por «iniciativa própria» já que não fazem parte do Serviço Nacional de Saúde. Assim, os utentes «não escolhem médico para poderem ter os que lhes “dão mais jeito”», explica Emília Pina.

A nível dos Centros de Saúde mais pequenos, onde se incluem todos os outros do distrito, com excepção da Guarda, Seia e Gouveia, cada médico tem menos de 1.500 utentes sob a sua alçada. No entanto, «há uma dificuldade diferente», já que pela sua «distribuição geográfica e isolamento», o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) está a trabalhar 24 horas por dia em todos estes concelhos de forma a «garantir o atendimento aos doentes». Desta forma, os médicos «têm que fazer horas extraordinárias», o que leva a que fiquem utentes em lista de espera, ainda que se verifique uma «redução» dos mesmos, consequência do envelhecimento da população, indica a coordenadora da Sub-região de Saúde da Guarda. Tendência contrária apresenta a capital de distrito, onde o número de utentes tem vindo sempre a aumentar. Desta forma, actualmente o número de utentes da Sub-região é 189.605, sendo que 45.554 são da Guarda, contra 185.181 e 43.748, respectivamente, em finais de 2002. Quanto ao número de médicos, esse não sofreu qualquer alteração, 134 na Sub-região contra 26 na Guarda, apesar do crescimento do número de utentes. Um factor explicado pela «redistribuição» do número de horas de cada médico, completa Emília Pina.

Ricardo Cordeiro

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