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«Gostaria que houvesse mais jovens a praticar jogos tradicionais»

Cara a Cara – Entrevista

P – A criação de um museu dedicado aos jogos e brinquedos tradicionais é a grande aposta da nova direcção da AJTG?

R – Não. A grande aposta é continuar alguns projectos que já temos em mãos. O museu é um projecto de longa data que anteriores direcções já tinham previsto e que nunca foi possível concretizar porque também nunca tivemos nem disponibilidade financeira, nem de tempo. Por outro lado, também nunca chegámos a acordo com a Câmara da Guarda no que se refere a espaços. Agora, vamos, de facto, voltar a pegar no projecto do museu de uma forma mais pensada e ver o que se pode fazer. É certo que temos uma vantagem em relação há 10 anos atrás, que é um espólio muito mais vasto. Agora, não lhe vamos chamar de grande aposta da nova direcção porque o museu, ainda por cima, não é uma concretização a curto prazo, mas a muito longo prazo.

P – O local já está definido?

R – O local ainda não está definido porque ainda nem sequer da parte da Câmara temos qualquer “feed-back” no sentido de que tipo de espaço, onde e como se vai processar a cedência. Temos é as nossas ideias e o espaço que nós gostaríamos de ter.

P – Que outros projectos para este mandato?

R – São projectos que já vêm sendo trabalhados ao longo dos anos anteriores, nomeadamente a publicação das alminhas. Queremos também avançar com algumas publicações da AJTG, caso de uma da autoria de Norberto Gonçalves. É ainda nosso objectivo ver implementado definitivamente o site na Internet, um projecto que, para nós, começa a ser muito urgente, e depois temos as iniciativas ditas habituais: vamos ter novamente os jogos concelhios, jogos tradicionais em espaços abertos e o levantamento de jogos e de culturas tradicionais. Mais a médio prazo, vamos tentar implementar um guia-brochura de regras e formas de jogos tradicionais na nossa zona.

P – Os jogos tradicionais continuam a ter muitos praticantes na região?

R – Sim, apesar de, por vezes, se notar aquilo que eu chamo de alguma “vergonha” na prática de jogos tradicionais. Ou seja, às vezes, há alguns constrangimentos de, publicamente, praticarmos os jogos tradicionais, nomeadamente no feminino. Agora quando se fala de jogos tradicionais masculinos e infantis continua a haver muitos praticantes. Quando trabalhamos com um público mais infantil notamos que há uma abertura muito grande da parte deles em desenvolverem essa prática.

P – Não considera então que este tipo de actividades esteja em risco de se perder?

R – Não, de forma alguma. Uma coisa é falarmos de jogos tradicionais praticados habitualmente como há 50 anos atrás, outra é falarmos deles nos dias de hoje. Não podemos exigir às pessoas que façam, hoje, um jogo tradicional como era feito pelos seus antepassados. Isso é perfeitamente irrealista. Agora, também não se pode falar na perda total. Claro que actualmente os jogos tradicionais não se podem inserir numa cultura de trabalho, até porque a maior parte da população portuguesa trabalha em escritórios, gabinetes, serviços e não na agricultura. Também não é nossa pretensão que os jogos tradicionais voltem a ter essa forma, porque estaríamos a ir muito contra a corrente. Acho que não se vão perder, nem há morte previsível para eles, porque as pessoas continuam a gostar muito de os praticar. Fazem-no é de outra forma. Mesmo assim temos alguns que são praticados habitualmente, em especial ao fim-de-semana, como a raiola e a malha, e de uma forma espontânea pela população em geral.

P- Existem muitos jovens a praticar ou deveria haver mais?

R – Gostaria que houvesse mais jovens a praticar, mas isto tem tudo a ver com aquilo que o nosso sistema permita que se faça. Há jogos tradicionais que podiam perfeitamente ser incentivados em termos de escolas e de sistemas de ensino. Nós temos uma escola de jogo do pau e gostaríamos de ter outras do género, mas é difícil fazer com que as pessoas tenham um primeiro contacto, principalmente na camada adolescente. Ainda por cima quando temos em paralelo toda uma panóplia de outras actividades que podem desenvolver mais facilmente.

P – Quantos sócios tem a AJTG?

R – A nível colectivo, cerca de 60 e, individuais, mais de uma centena.

P – Pretende tentar aumentar esse número?

R – Nos últimos anos tem havido um aumento e é lógico que queiramos fazer crescer sempre mais esse número. Mas aumentar não só pela quantidade, mas mais pelo facto de se criarem elos de colaboração com os nossos sócios. Ou seja, não são só sócios no papel, mas activos e intervenientes em termos de espírito associativo.

P – Em tempos, a AJTG já organizou um grande campeonato distrital de jogos tradicionais. É para retomar?

R – Não. Agora temos um troféu regularidade que é uma coisa muito diferente. Esse torneio distrital teve a sua lógica a determinada altura. Neste momento, a AJTG não é propriamente uma associação profissional e não tem recursos, humanos principalmente, para conseguir responder a todos os nossos anseios. Gostaríamos imenso de fazer mil e uma actividades. Ideias e projectos não nos faltam, mas temos que deixar cair alguns.

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