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(G) de Guimarães…onde o espaço é mais público

O espaço público urbano, espaço aberto entre a malha edificada, estrutura, alimenta e cose, o tecido que é cidade. É espaço de comunicação e relação entre as pessoas e entre elas e os sítios, carregando a memória colectiva, a identidade e o carácter desses locais.

Este espaço antes era gerado de forma orgânica, com proporção e escala, actualmente na maioria dos casos é imposto, em quantidade e muito raramente em qualidade. Espaço que, sendo parte integrante do que chamamos cidade, partilha com ela as convulsões, os desafios e muito particularmente as dificuldades actuais criadas pela sociedade da comunicação, informação, tecnologias e consumo.

A praça pública é o elemento morfológico mais marcante na composição da cidade e, em simultâneo, onde a terceira dimensão do espaço público é mais visível. Na vida da cidade, a praça representa o lugar cívico. Cada praça é definida por uma envolvente e adquire muito do seu significado através do edificado que a contém.

A rua por sua vez, é o principal elo de ligação entre o todo da cidade (edificado, social e cultural). O seu traçado estabelece a relação mais directa de assentamento entre a cidade e o território. Como espaço público é na sua génese, um espaço de cidadania, sociabilidade e mobilidade.

Já pensaram no impacto do automóvel na estrutura urbana, nomeadamente a consolidada?… A perda de significado de alguns espaços, o contributo que a selecção dos materiais de revestimento, relação entre si e sua aplicação carrega para a identificação destes espaços?

As cidades actuais têm de se valorizar como espaços de relações, produzindo lugares de grande qualidade para a troca e interacção humanas, o que pode reforçar, muito, a importância da salvaguarda e requalificação dos lugares históricos. A autenticidade do seu carácter pode constituir um dos mais importantes recursos para um novo processo de desenvolvimento sustentado.

Guimarães, tem na minha opinião sabido interpretar o que referi. Trata-se dum manual vivo de como lidar com estas matérias. Os objectivos que nortearam a intervenção no Centro Histórico e que conduziram a um trabalho de excelência foram: «(…) A reabilitação do Centro Histórico de Guimarães visa a recuperação e preservação do património construído de qualidade formal e funcional, cuja autenticidade é necessário manter no seu todo pelo que a reabilitação passa também pela utilização dos materiais e das técnicas tradicionais. O segundo objectivo reside na manutenção da totalidade da população residente, dotando-a de melhores condições de habitabilidade».

Constata-se, eventualmente decorrente do referido, que, visitar Guimarães, em especial o Centro histórico, a qualquer hora ou época do ano é de facto um imenso prazer. Experimentem também visitá-la à noite e testemunhem como as estrelas parecem ter-se fixado nas molduras de todos os vãos, das principais praças, tornando-as ainda mais bonitas.

Porque vivi de perto e, fundei enormes expectativas na Recuperação da Praça velha na Guarda, vivo estas questões com mais intensidade. Não me agrada de facto o que vejo na praça principal da minha cidade, recuperada há tão pouco tempo e já tão triste, velha, não viva ou vivida, com sinais de vandalismo, quase abandonada, onde metade do edificado está devoluto e em acentuado estado de degradação, onde parece não haver razão para ir…Atrevo-me a propor que muitas das flores, bonitas, do jardim José de Lemos, ou de uma qualquer rotunda, cuidada, substituam uns inexpressivos arbustos, trazendo elas alguma vida onde esta parece não existir!…

Numa entrevista recente, cuja leitura recomendo a todos, nomeadamente aos que costumam colocar paixão e empenho naquilo em que se envolvem…, à revista Arquitectura e Vida, n.º70, Abril de 2006, onde por coincidência também consta um artigo sobre o nosso TMG e o arquitecto Carlos Veloso, Alexandra Giesta, arquitecta, responsável desde o início do processo em Guimarães e, um nome de referência nestas matérias, nome que me habituei a pronunciar, a partir de 1983, também no início da minha carreira, refere a determinado passo «(…) a esta operação já dedico 25 anos, é quase a minha vida profissional, é esta coisa fantástica de nada se fazer sozinho, quando se faz sozinho, normalmente fica mal…se uma pessoa estudar e persistir, se tentar sempre conjugar e distribuir esforços, se acreditar, se colocar muito empenho, consegue um prazer a tempo inteiro. Até os erros não são meus, são nossos…»

Por: Aires Almeida

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