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Futuro das Minas da Panasqueira comprometido

Falta de escoamento no mercado leva administração da Beralt Tin & Wolfram a ponderar a suspensão da laboração da única mina de volfrâmio do país

Desde a semana passada que está traçado o pior cenário para os 220 trabalhadores das Minas da Panasqueira. A administração da Beralt Tin & Wolfram, empresa concessionária da exploração de volfrâmio e tungsténio, pondera suspender a laboração da empresa ainda este mês devido à impossibilidade de escoar o produto no mercado. Os preços baixos praticados pela China, a queda do dólar em relação ao euro e a incapacidade financeira da empresa foram os motivos apresentados pelo presidente do Conselho de Administração, Bryce Porter, ao autarca da Covilhã numa reunião realizada na semana passada, acrescentando que a empresa só deverá retomar a laboração normal dentro de três ou quatro meses, altura em que se prevê a retoma do mercado e o aumento da procura de tungsténio.

Enquanto isso, a administração equaciona aceder ao Processo Especial de Recuperação de Empresas (PERE), adianta Ramachondra Naique, administrador, que desabafa estar «triste» pela actual situação e por uma eventual suspensão mais prolongada. «As previsões dizem que em breve o mercado irá retomar. Isso até pode ser verdade teoricamente, mas a vida é mais cruel do que possamos prever», refere. E apesar de acreditar que «ninguém pode ficar satisfeito com este desfecho», Ramachondra Naique aconselha a que se «se aceite de forma racional» este desfecho, pois este mundo «é selvagem». Menos compreensivos estão os mineiros, que se opõem à suspensão de funcionamento das Minas da Panasqueira. António Matias, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM), considera que estes meses de mercado em baixo seriam «bons» para se proceder a obras de desenvolvimento das minas, como «novas perfurações, novos acessos aos filões e novos montes» para explorar aquele recurso mineral. Mas dada a impossibilidade da empresa investir nessas obras de melhoria de equipamento e infraestruturas, o STIM tem reunido ao longo das duas últimas semanas com governantes, o Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho (IDICT) e irá ao Ministério da Economia no próximo dia 17 para encontrar soluções e impedir que a empresa feche as portas e atire para o desemprego mais de duas centenas de trabalhadores.

Para além disso, agrava-se o facto de não conhecerem «oficialmente» a verdadeira situação da mina, sabendo pela comunicação social da eventual suspensão dos trabalhos e desconhecendo a situação dos trabalhadores em caso de fecho. Em 1993, altura em que mina também encerrou, «houve um processo negocial e os trabalhadores foram avisados com dois meses de antecedência», recorda o sindicalista, verificando que agora a empresa refere a suspensão «sem falar na situação dos mineiros».

Sindicato teme desertificação da zona

Preocupado está também o autarca da Covilhã, que ainda ontem se deslocou às minas para falar com os trabalhadores e para quem o Governo «tem que arranjar esquemas que atenuem as circunstâncias sociais». No entanto, Carlos Pinto aponta críticas à gestão da empresa: «Devemo-nos questionar se a empresa está à altura de desempenho no sector mineiro, uma vez que trabalha apenas quando o mercado absorve a totalidade da produção e não tem capacidade para a manter durante algum tempo para a poder depois escoar noutro circunstancialismo de maior procura», condena, sugerindo que face a esta situação o Governo deverá «questionar-se» se a empresa reúne condições para manter a concessão. Além do apoio social aos trabalhadores, a única coisa que importa agora a Carlos Pinto é que o Ministério da Economia crie as «condições» necessárias para manter as minas operativas através da bombagem de água necessária para evitar o alagamento das galerias.

Sendo uma das zonas do concelho da Covilhã mais deprimida socialmente e com o crescente desemprego por toda a Beira Interior, António Matias teme que as Minas da Panasqueira e localidades limítrofes possam ficar desertas se o complexo encerrar. Daí que a Câmara tenha já preparado um “Grupo de Missão”, que tomará posse no dia 25 de Abril, destinado a «estruturar acções e intervenções que venham a revelar-se úteis em vários domínios», como a promoção turística, recuperação museológica de alguns aspectos das minas e para a eventual utilização de pavilhões, propriedade da Câmara, para a instalação de pequenas indústrias.

Liliana Correia

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