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Futebol

Saliências

Tenho observado com curiosidade alguns jogos do desporto do povo. Não posso dizer que vejo porque só observo e por essa razão estou entre os que olham mas não vêem. Estive entre os que pasmado viu pontapear a cabeça de um jovem italiano nos sub-dezassete. Reparei como Fernando Couto esmurrava os adversários espanhóis e tudo o resto que mexa e chegue perto. Tenho curiosamente encontrado diversos artigos sobre o desporto rei e não tenho percebido que toda aquela violência seja das regras do jogo. A selecção portuguesa em todos os seus escalões caracteriza-se pela formidável classe de Saltilho. Insultam, cospem, vociferam, agridem, chutam com as mãos e pontapeiam os adversários. Este é o charme do desporto nacional. Este é o processo educativo. Ainda recordo pedreiros, médicos, engenheiros e outros deselegantes aos urros pela Académica. Ainda lembro os pais a insultar treinadores nos escalões infantis. A agressividade está na razão directa dos interesses envolvidos, dos desejos

expressos e os inconfessáveis. Todos querem o contrato milionário ao fim do dia. Os abutres não jogaram futebol mas espreitam os contratos. Os meninos pensam com os pés e dão-se aos abutres para o exercício do pensamento. Aí está como se criam facínoras, aleijados da moral e outros doentes do futebol. A nobre arte do insulto ganha exuberância nas bancadas e traduz a fineza, o recorte da família e seus preparos educacionais. Não creio que se chegue a campeão do mundo à gadanha e à foucinha. Não creio que se lá vá com a justiça de Fafe ou a violência campesina em torno das águas e dos marcos de terreno. O género de atitude das estradas e o comportamento futebolístico traduzem o estilo português.

Por: Diogo Cabrita

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