Os trabalhadores da Beiralã, em Seia, só vão votar favoravelmente em assembleia de credores uma proposta que inclua o pagamento das indemnizações devidas aos 120 funcionários que foram despedidos na semana passada. O aviso é deixado pelo coordenador do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA), Carlos João, que estima que o valor ascenda aos dois milhões de euros.
O assunto já foi abordado, de resto, no plenário de trabalhadores que decorreu na segunda-feira, onde o STBA procedeu à entrega das cartas de despedimento dos 120 funcionários da empresa têxtil que tinham os contratos de trabalho suspensos. «É evidente que o sindicato vai influenciar os trabalhadores nesse sentido», avisa Carlos João, que explica que há casos em que a indemnização «chegam a ser de 20 mil euros».
O sindicalista diz que o STBA tem estado em contacto permanente com o gestor judicial, António Ramos Correia, e ainda com o antigo administrador, Rui Cardoso, a quem deixa o alerta: «Se estiver a trabalhar em propostas com pagamentos de zero aos credores não vai ter sucesso», garante. De acordo com o dirigente, Rui Cardoso e António Ramos Correia deveriam ter estado com os trabalhadores na segunda-feira, cumprindo assim a promessa feita num plenário que aconteceu a 14 de Abril, mas não chegaram a comparecer.
O STBA tinha ainda uma reunião agendada com os dois elementos antes do plenário, que também não aconteceu. «Recebi um telefonema quatro dia antes, através do qual fui informado de que não iriam porque não tinham ainda um plano para apresentar aos trabalhadores», revela. Carlos João diz ter já recebido, entretanto, a garantia de que os cerca de 90 trabalhadores que estão actualmente a assegurar a laboração da Beiralã vão manter os seus contratos de trabalho até à assembleia de credores, agendada para o próximo dia 1 de Junho. Segundo o sindicalista, a decisão surgiu depois de «algumas hesitações» por parte do gestor judicial, que chegou a equacionar despedi-los também. Uma decisão que agradou ao coordenador do STBA, até porque «pode ser uma mais-valia no caso de surgir uma proposta de viabilização da empresa, que poderá contar desde logo com estes trabalhadores», espera.
A Beiralã, que ocupou as instalações da antiga Fisa, viu os seus problemas financeiros agravarem-se no última trimestre do ano passado, altura em que Rui Cardoso anunciou que não tinha condições para pagar os salários a todos os trabalhadores. O anúncio levou a que, em Setembro, parte deles decidisse suspender os contratos de trabalho, de forma a poderem usufruir do subsídio de desemprego. A mesma opção fizeram os restantes funcionários ainda antes do Natal, tendo a firma chegado mesmo a encerrar as portas no início do ano. Ainda se chegou a ouvir falar do interesse de empresários na região na empresa, em Janeiro, mas sem que se tenha concretizado. O Tribunal Judicial de Seia acabou por decidir-se pela insolvência, no passado dia 1 de Abril, na sequência de um pedido remetido por uma das credoras, a empresa francesa Chargeurs Wool.