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Função Pública

Menos que Zero

Cada um dos 136,5 mil funcionários municipais falta, em média, um mês por cada ano de trabalho, revela um estudo publicado esta semana. Sabendo-se que há muitos funcionários dedicados e pouco faltosos, conclui-se que nos quadros camarários há senhores que não fazem nenhum, contribuindo desta forma para denegrir ainda mais a imagem do funcionário público mal-encarado e pouco trabalhador.

A causa desta situação reside numa legislação laboral que não premeia quem mais produz nem pune os que nada fazem, facilitando a vida aos funcionários públicos que são capazes de tudo para não fazerem nada.

Trabalhador que entre na Função Pública cheio de garra, rapidamente percebe que é um corpo estranho naquele sector e a história que se segue é ilustrativa do que escrevo. Com a vontade e disponibilidade característica de quem entra no mercado de trabalho, um conhecido meu entrava na câmara municipal antes das nove e ficava até terminar os assuntos que tinha em mãos. Começou a reparar que o ambiente em seu redor se deteriorava de dia para dia, até que foi chamado pelo chefe daquela secção para ouvir uma sábia recomendação de “quem anda nisto há muitos anos”. Do alto do seu cargo, o responsável tentou demonstrar que o comportamento do novo funcionário não seria o mais correcto.

– Ao entrar deve cumprimentar pessoalmente todos os seus colegas e não atirar um simples bom-dia para todos. A meio da manhã deve fazer uma pausa para café, tal como eles fazem. E não vale a pena ficar aqui até mais tarde porque isso está a stressar os seus colegas e não lhe adianta nada, disse-lhe o chefe, verbalizando desta forma a teoria mais famosa entre o funcionalismo público. Em apenas três minutos, o chefe converteu ao “deixa andar” mais um promissor funcionário público.

No dia em que se publicou o tal estudo sobre o absentismo dos funcionários municipais, muitos foram os que encontraram ali a razão para a crise que o país atravessa, apontando o dedo aos funcionários públicos. É verdade que o funcionalismo público podia produzir mais e melhor, mas para isso era necessário mudar a legislação laboral, dando ao Estado mais flexibilidade na admissão e cessação dos contratos de trabalho, mais liberdade na adopção de tabelas remuneratórias baseadas no mérito e não nos anos de trabalho e mais mobilidade funcional.

Expurgando o funcionalismo público dos maus elementos e pagando melhor aos que verdadeiramente o merecem, estou certo o Estado poupava, os serviços melhoravam, os bons funcionários públicos sentiam-se mais incentivados e os cidadãos agradeciam.

Por: João Canavilhas

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