Arquivo

Fumo negro

Coisas…

Há cerca de uma semana ficámos todos a saber que um médico reumatologista tentou por todos os meios ao seu alcance vir para o hospital de Sousa Martins onde pretendia dinamizar uma Unidade de Reumatologia. Para tal, naturalmente, contactou o director clínico e, segundo o seu próprio relato, foi sendo “enrolado” com falas mansas e paleio de circunstância até perceber o óbvio: o director clínico não contava nem tinha jamais contado com ele para unidade nenhuma.

Ao ler a notícia fiquei com uma pena imensa de que o responsável médico do hospital não tivesse querido (ou podido) comentar a versão do queixoso. No entanto, independentemente disso, a realidade é que o tal médico acabou por ser contratado pelo hospital de Seia e nós, por cá, mais uma vez ficámos a ver navios.

Este episódio vem juntar-se a uma série de muitos e muitos outros que, além de revelarem muito daquilo que foram os últimos três anos do hospital de Sousa Martins (uma lástima), levantam uma outra questão para a qual venho chamando a atenção há já algum tempo: a urgência na definição da nova equipa responsável.

Passaram já mais de dois meses sobre as eleições e verificamos que semanas preciosas têm sido desperdiçadas pelo simples facto de que não só este conselho de administração na prática não existe, como tarda em ser nomeado um novo. Não conheço as razões da demora, não sei sequer se residem em aspectos meramente legais ou burocráticos, não faço ideia de quais os contactos que têm sido feitos, mas sei pelo menos duas coisas: os complicadíssimos dossiers que esperam tratamento ainda não foram sequer abertos e, talvez mais grave, os estragos continuam a suceder a bom ritmo como é o caso relatado pela imprensa faz agora uma semana.

Há momentos em que dou comigo a pensar se serei só eu a ver que cada dia que passa é mais um dia perdido na competição inevitável que o hospital da Guarda vai ter que travar. Uma competição não apenas com os seus vizinhos nobres da Covilhã e Viseu mas também e sobretudo com o modelo “empresarial” que o Ministro socialista quer impor à saúde em Portugal.

Como todos sabemos, uma empresa, qualquer empresa, existe para dar lucro. Não há beneméritos no mundo empresarial (excepto talvez para efeitos de desconto no IRC). O hospital da Guarda (e a própria Guarda) vão inevitavelmente entrar num mundo no qual a competição pelo melhor desempenho vai ditar quem morre e quem vence. À semelhança de muitas empresas, também muitos hospitais verão fechadas as suas portas, reduzidas as suas valências e desvalorizadas as suas competências. Poderá ser o caso do nosso se este marasmo se prolongar durante mais tempo.

Haja fumo branco. Rapidamente.

Por: António Matos Godinho

Sobre o autor

Leave a Reply