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Fumeiros e sabores deliciaram milhares de visitantes

ACITAM vai avançar com a certificação de fumeiros e fumados da região

«Barata a feira! Leva o saco cheio de biscoitos por tão pouco dinheiro», diz Maria Rosa Craveiro a um cliente que veio de muito longe para comprar sardinhas doces, uma iguaria tradicional de Trancoso, e ficou sem as provar porque esgotaram no domingo. «Ouvi na rádio e fiquei com curiosidade», refere o visitante inconformado. «Hoje vendi 384 sardinhas doces a um euro cada», congratula-se a produtora. Tudo se passou no último dia da Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira, o mais visitado do certame que decorreu no último fim-de-semana no Pavilhão Multiusos de Trancoso.

Para António Oliveira, presidente da Associação Comercial e Industrial dos concelhos de Trancoso, Aguiar da Beira e Mêda (ACITAM), entidade que promoveu a feira pela segunda vez, «o fundamental é a promoção do sector de fumeiros e fumados da região», por isso, investiram tanto em “outdoors” pela região Centro. Aliás, este é um sector «onde é expectável um futuro mais risonho», afiança o presidente da ACITAM. Segundo um estudo da associação, só o concelho de Trancoso produz anualmente mil toneladas de enchidos e fumados. Neste momento estão sediadas: duas salsicharias de produção industrial, cinco salsicharias artesanais, duas unidades de lacticínios industrial e 32 queijarias tradicionais, todas licenciadas pelas entidades competentes. «Números que nos levam a acreditar que a produção vai duplicar a curto prazo», confia o responsável, para quem este é sector «sustentável» na economia da região e emprega cerca de 150 pessoas no concelho. Contudo, a edição do próximo será repensada, prevendo-se a sua redução para dois dias (sábado e domingo), porque «é desgastante e difícil manter os produtores tantos dias», justifica António Oliveira. Por outro lado, «temos que começar a pensar em cobrar o espaço dos expositores, porque é a ACITAM que suporta todos os encargos», acrescenta.

Para além das sardinhas doces, também se pôde encontrar chouriça, moira, morcela, farinheira ou bucho, entre outros enchidos tradicionais. Tudo bem regado com azeite e vinho da região, acompanhado pelos queijos. Para a sobremesa, os doces de Moncorvo ou o folar de Vinhais, feitos na hora. E ainda, o artesanato e de outros produtos regionais. «As vendas ultrapassaram as expectativas», garante Ilídio Rodrigues, das Carnes Rodrigues, um dos 80 produtores presentes na segunda edição da feira. No ano passado, o certame foi visitado por mais de 25 mil pessoas, mas esta edição pode não ter ficado muito aquém, já que milhares de pessoas passaram pelo Pavilhão Multiusos entre sexta e domingo. Algumas eram da região, mas a maioria veio de fora e até houve estrangeiros. Depois da consolidação do certame, o próximo passo será a certificação destes produtos, revela Ilídio Rodrigues. Isto porque «o país ainda não os conhece», como acontece com a alheira de Mirandela ou os enchidos de Barrancos, lamenta o produtor. Depois da certificação, a aposta pode passar pela exportação, que já é praticada por algumas empresas da região, como as Carnes Rodrigues, que exporta para o Luxemburgo e França. António Santos, da Casa da Prisca, comunga da mesma opinião e vai mais longe: «Este certame pode servir de rampa de lançamento para a certificação», garante. Entretanto, como a sua empresa «não pode crescer muito mais», aposta na diversificação dos produtos, tanto nos doces tradicionais, como nas variadas compotas. «Mas ainda falta uma marca para rotular todos os produtos e produtores da região», frisa.

Sardinhas doces poderão ser certificadas

As tradicionais sardinhas doces, sem escamas ou espinhas e com tripinhas de amêndoa, poderão vir a ser certificadas. A ACITAM já avançou com o processo de certificação da tradicional doçaria e tenciona seguir depois para a certificação dos fumados e enchidos da região «Queremos fazer a promoção de uma marca», adianta António Oliveira, revelando que o processo «já teve início» e só resta esperar pela certificação do produto. A receita deste doce conventual foi deixada pelas Irmãs do Convento de Santa Clara. Trata-se de um produto tradicional feito à base de ovos, amêndoa, chocolate, açúcar, azeite, sal e canela. O segredo desta iguaria reside na sua confecção, por isso cada um “puxa a brasa à sua sardinha”. «Nem toda a gente sabe a receita original», confidencia o marido de Maria Rosa Craveiro, uma das poucas produtoras que conhece «todos os segredos», garante. «Há para aí outras sardinhas doces, mas são filhas das originais», sublinha orgulhosamente.

Patrícia Correia

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