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Fui pra fora lá fora

Ladrar à Caravana

A Espanha é um país rodeado por Portugal, Andaluzia, Gibraltar, Comunidade Valenciana, Catalunha, Andorra, Navarra, País Basco, Astúrias e Galiza. Os habitantes da Espanha, em vez de falarem espanhol, preferem chamar castelhano ao dialecto que usam para se insultarem uns aos outros ou pedir uma caña ao camarero.

Às refeições comem pevides, tapas, porciónes e bocadillos. Não admira, portanto, que façam excursões para virem comer a Portugal.

Os espanhóis tiveram uma série de pessoas importantes na história deles. El Cid, Franco, Ortega y Gasset, Joselito, Paco de Lucia e o touro da Osborne. Este último tem estátuas espalhadas por todo o território e chega a ser mais conhecido do que o rei. Só mesmo o Figo e o Beckham são mais famosos que o tal touro, mas como não são espanhóis, não conta.

Os espanhóis têm a mania de traduzir tudo para o tal dialecto deles, o castelhano. Depois dos já históricos Tù También e dos Patadas Y Patadas* podia-se pensar que os limites da criatividade tinham sido atingidos, mas não: existe sempre a possibilidade da transcendência e da superação. O blockbuster deste Verão, o Rei Artur, que em Espanha se chama, adequadamente, Arturo, demonstra essa capacidade espantosa de traduzir o intraduzível: Lady Guenevire é baptizada, na versão castelhana, como Ginebra. Está certo. Tal como a genebra é uma bebida que dá um coice do caraças, a menina do filme também tem pinta para pôr um gajo de quatro.

Estas férias aproveitei para visitar um dos tais países que rodeiam a Espanha: Gibraltar. Até para dar a impressão que fui ao estrangeiro. Quer dizer, aquilo não é bem um país, é mais um grande calhau a entrar pelo mar dentro. Mas é engraçado de ver, a arrogância castelhana e a arrogância britânica, face a face. Uma fronteira, como havia antigamente, o pessoal a ter de se identificar, passaporte ou bilhete de identidade, alfândega para vistoriar o tabaco e scotch que se traz em excesso, guardias civiles dum lado da linha, bobbys do outro, enfim, adultos a brincar aos países.

Mas é um sítio que vale a pena visitar. O tabaco é barato. Tem uma florescente comunidade de macacos super-protegida pelas autoridades locais, e um aproveitamento de cada metro quadrado do território que faria inveja a qualquer profissional de logística: enfiar trinta mil habitantes mais 240 macacos propriamente ditos, num bocado de pedra como aquele, e ter ainda espaço para os quartéis, um aeroporto (que funciona como as passagens de nível: quando passa um avião, os carros param para lhe dar passagem) e parques de estacionamento, é obra. E casas. Que os tipos não dormem ao relento…

* na língua vulgar das pessoas que não falam castelhano, trata-se das bandas U2 e dos Xutos e Pontapés.

Por: Jorge Bacelar

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