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Frutos da época

observatório de ornitorrincos

Esta semana esteve uma grande canícula, mas se calhar o tempo esteve mais fresco.

Com esta frase cumpro um ritual de Verão e em muito menos palavras faço o mesmo que José António Saraiva no editorial do Expresso. Digo uma coisa óbvia e logo a seguir contradigo-a. Assim, se houver alguém que se lembre de temperaturas mais elevadas do que as desta semana, tenho a opinião amparada pela segunda oração. Além disso, utilizo a palavra canícula, o que atribui a quem o faz uma legitimidade para elaborar alegremente sobre a importância dos iogurtes magros nos Morangos com Açúcar ou qualquer assunto de importância nacional equivalente merecedor de atenção editorial no “Grande Semanário”.

Entretanto, é provável que José António Saraiva enquanto rapaz novo tenha fornecido a Hergé grande parte do material com que este escreveu as histórias de Tintim. Já nessa altura considerado o melhor jornalista do mundo que nunca escreveu uma notícia ou reportagem ou mesmo um texto em condições, o director do jornal associado a O Interior inspirou Hergé para desenhar e escrever As Aventuras de Tintim. O livro Tintim no País dos Sovietes foi claramente baseado numas férias que José António passou numa datcha com Estaline, um homem afável a quem Saraiva exporia as suas divergências à hora da sobremesa e que Kruschev aproveitaria anos mais tarde para brilhar num Congresso do PCUS. Isto foi revelado pelo próprio Saraiva, à saída de um encontro secreto que manteve com Elvis Presley, John F. Kennedy e o próprio Tintim numa tasca de Alfama.

Será ainda este mês, mas lá mais para o fim, que vários grupos de defesa dos direitos dos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais) lançarão uma campanha destinada a dar a conhecer ao público a verdadeira relação entre a cigarra e a formiga. A organização pró-lésbica e anti-globalização “Atlas Não Safo Sim” explicará que a cigarra e a formiga vivem em união de facto homossexual e não há razões para esconder isso das crianças, “a menos que sejam fãs da Dina, que é reaccionária”. Segundo as organizações envolvidas, a formiga é retratada como uma burguesa heterossexual, parva, mesquinha e egoísta e não como a trabalhadora lésbica que é, com consciência de classe e solidária como é da natureza de todos os operários e de todos os que têm opções sexuais minoritárias.

Por outro lado, a música popular portuguesa da autoria de artistas consagrados como Toy, Claudisabel ou Lusinho Camafeu, tem este mês uma divulgação extraordinária, com a colaboração das instalações sonoras de 500 watts de todos os carros com matrícula francesa e suíça que circulam nas ruas e estradas de Portugal. Além de divulgar a música nacional, pedido incessantes de Manuel Luís Goucha, pode também servir como uma boa vingança para aqueles que saíram de Portugal com contas por ajustar.

Felizmente, tanto as raparigas (também conhecidas na gíria masculina pelo carinhoso epíteto de “gajas”) portuguesas como as que o não são e passam por aqui nesta altura do ano se passeiam pelas ruas e calçadas com decotes magnânimos, transparências benevolentes, calças descidas e umbigos de fora que fariam corar de vergonha um muçulmano que coma carne de porco diariamente. Não sei mesmo se o terrorismo islâmico não será uma resposta de algumas mulheres ressabiadas contra a pouca roupa das raparigas ocidentais. O Islão também pode ter lido Lisístrata. Seja como for, o Ocidente tem de se manter firme. Não nos vergaremos à vontade terrorista. É imprescindível manter o nosso estilo de vida, os decotes e os umbigos à vista. Qualquer subida da cintura ou fechamento das camisolas é uma vitória do inimigo.

Nota: Este artigo foi escrito sob uma intensa canícula. E o iogurte magro está para os Morangos com Açúcar como a heroína para o Trainspotting.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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