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Francisco Louçã: mãozinha ao PS de um velho trotskista

O sonho do Bloco de Esquerda era engolir o PS e ser o Syriza grego que abateu os socialistas do PASOK nas últimas eleições. Mas a conjuntura portuguesa é desfavorável. Não é, aliás, por acaso que Francisco Louçã abandona agora o barco. É o sinal dos tempos difíceis que aí vêm para o Bloco.

Louçã deixa a batata quente nas mãos de João Semedo, Catarina Martins, Ana Drago, Daniel Oliveira, Rui Tavares, outros que vierem e, objetivamente, dá uma mãozinha enviesada ao PS. Talvez para que a “revolução permanente” continue um pouco mais à frente, quando a ala social-democrata de Rui Tavares e Daniel Oliveira tenha provado do seu próprio fel. Uma vez trotskista, sempre trotskista (olhe-se o derrube de Sócrates no PEC IV).

Os socialistas têm tudo para serem depositários do voto de protesto contra o PSD e ganhar as eleições legislativas de 2015 (falta tempo mas a economia não vai recuperar até lá). As sondagens já dão o PS muito perto do PSD e a tendência é para ultrapassarem os social-democratas nos próximos meses.

Há um Passos Coelho antes e depois do discurso do Pontal. Após ter declarado que a crise vai acabar em 2013 – e toda a gente sabe que não acabará – Passos perdeu os dias da inocência aos olhos dos eleitores. Será cada vez mais confrontado pelos pensionistas e desempregados com o que disse. Também pelos funcionários públicos e pelos trabalhadores do sector privado, estes ameaçados de perda de emprego e de perda de mais subsídios em 2013, sacrificados em virtude da ausência de uma verdadeira reforma do Estado. O PS aproveitará.

António José Seguro fará o óbvio. Surfar a onda, votar contra o Orçamento de Estado, forçar mais o discurso contra o Governo e virar o PS mais à esquerda. Retirando mais espaço de manobra ao Bloco de Esquerda. Nem lhe faltam os ícones Mário Soares e Manuel Alegre para o apoiar nem o aparelho e o povo socialista que sofrem na pele os efeitos da austeridade.

A favor de Seguro jogam outros fatores. O precedente de Passos Coelho, que é um homem igualmente banal e chegou a primeiro-ministro porque estava à hora certa no lugar certo (ao contrário dos ilustres Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite que ficaram pelo caminho). O facto de os ciclos políticos em tempos de crise estarem mais curtos, como ilustra a derrota de Sarkozy para Hollande ao fim de cinco anos no Eliseu. Não é por acaso que António Costa começou a marcar o líder do PS, com medo de ficar refém em Lisboa.

Por: Paulo Gaião

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