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“Fox Blondes”, fanfarra do glamour

Opinião – Ovo de Colombo

Por ter tido tantas atrizes loiras contratadas, a 20th Century Fox, um dos maiores estúdios de Hollywood, ficou conhecida por albergar as chamadas “Fox Blondes”. A Fox tinha grandes estrelas morenas: a doce Jeanne Crain, a sensual Linda Darnell e a aristocrática Gene Tierney. Eram estas, e em especial Tierney, que recebiam os mais aliciantes papéis (leia-se dramáticos).

As loiras da Fox estavam mais associadas a comédias musicais hiper coloridas, género imensamente popular nos anos 40. Eram uma grande tradição do estúdio e os seus filmes eram imensamente lucrativos para a Fox poder investir desafogadamente em filmes de cariz mais sério. A primeira loira da Fox, tirando a criança-prodígio Shirley Temple, foi a cantora Alice Faye (na foto), a minha favorita. Inicialmente “vendida” como uma nova “Jean Harlow” – cabelo platinado e imenso “sex-appeal” –, Faye foi transformada, nos finais dos anos 30, numa figura mais maternal, melancólica e dotada de um loiro mel, uma tonalidade mais doce. Ainda a atriz era um sucesso quando a Fox decidiu apostar numa tal Betty Grable, uma loira repleta de vitalidade. Quando o estúdio lançou Grable em Technicolor o público logo a ela se rendeu. Grable, que tinhas umas pernas esculturais asseguradas num milhão de dólares, foi a “pin-up” favorita dos soldados norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Isto não é de estranhar, dada a sua aparência extremamente americana, saudável, de rapariga sexy mas decente, que prepara pão com manteiga de amendoim ao pequeno-almoço.

Em meados dos anos 40, Faye abandonou Hollywood, o que fez de Grable a rainha loira da Fox por excelência. A “pin-up” chegou a conhecer uma possível substituta, June Haver, que embora bonita e carismática, nunca viu a sua carreira fortemente lançada. Foi só com a chegada da década de 50 que Grable viu os seus dias de grandeza contados. A guerra havia terminado, assim como a frescura juvenil da loira. E quando a nova aposta oxigenada se chama Marilyn Monroe não há competição possível. Fala-se que Zanuck nunca gostou de Monroe, dizendo que não era fotogénica! Mas o público gostou, e muito, catapultando-a para o trono de uma das maiores estrelas de Hollywood. Em meados dos anos 50, a Fox lançou duas cópias de Monroe, encarando-as como suas possíveis substitutas: Sheree North, bonita e talentosa, e Jayne Mansfield, que atuou como uma paródia da própria Monroe.

Na altura da morte de Monroe (1962), o “studio system” estava a queimar os últimos cartuchos e, a partir daí, o cinema já não seria o mesmo. A época das “Fox Blondes” havia terminado. Abençoado DVD que nos permite assistir a esses filmes coloridos da Fox, cuja fanfarra inicial acompanhada por aquele fabuloso logótipo significa, alegre e matematicamente, “loira+musical+technicolor”.

Miguel Moreira

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