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Forças Armadas seguem ORION até ao Sabugal

Cerca de 800 militares estão em exercícios na raia até amanhã

Nas estradas da zona do Sabugal, os veículos do Exército marcam presença e impõem respeito. Tal como os militares que andam por perto. Junto ao Centro de Negócios Transfronteiriço do Soito, as movimentações intensificam-se. Há muros com sacos de areia, postos de vigia, cancelas e soldados em corrida apressada. Parece uma base montada no Kosovo ou noutro cenário de guerra, mas é só o quartel-general do exercício “Orion 08”, que transformou as imediações da vila raiana num teatro de operações para 800 militares.

Em Fevereiro próximo, muitos destes soldados embarcam para aquela região da Europa. Um batalhão encontrou por estas paragens mais um momento do treino em curso para a missão nos Balcãs, «orientado em função dessas especificidades», refere o major Morgado Brás. O clima e o terreno do concelho do Sabugal são semelhantes, acrescenta. O “Orion” realiza-se todos os anos, de forma a simular operações de apoio à paz. Até hoje decorreu uma “Operação não Artº 5 (NART 5) do Tratado de Washington” – de estabilização – excluindo o típico ambiente de guerra. «Foi criado um cenário fictício, em tudo igual a alguns que, infelizmente, temos vindo a observar na cena internacional», adianta o oficial. No local há treino físico, “check-points”, protecção de supostas minorias étnicas e, na passada segunda-feira, até os F-16 da Força Aérea marcaram presença. Por estes dias, os soldados também vivem em condições quase similares às que podem enfrentar no Afeganistão, no Líbano, no Iraque ou no Kosovo. São 24 horas diárias de serviço, com patrulhas, “briefings” e manutenção do material e das 140 viaturas que foram para o Soito.

«Hoje, com a experiência em missões internacionais, os militares já podem treinar de forma mais realista», garante Morgado Brás. Um realismo que esbarra, por exemplo, na dimensão do contingente. Para cada homem no terreno são necessários, pelo menos, três de apoio, o que não aconteceu neste treino. “Só” 250 dos 800 militares envolvidos neste exercício estavam na retaguarda, a garantir assistência médica, combustíveis, cozinhas, bar e áreas de descanso. Apesar desta força, a presença militar no município extravasou os momentos de treino. No Sabugal, houve uma exposição, uma torre multi-actividades na zona escolar e viaturas expostas em frente à Câmara. «Também procuramos mostrar o que temos aos civis e talvez angariar possíveis voluntários», admite o oficial. Nesse sentido, as portas do Centro de Negócios do Soito estiveram abertas a todos: «É um direito legítimo de cada cidadão saber o que os militares fazem», afirma.

INEM participou com hospital de campanha

A hipótese é remota, mas não deixa de ser uma hipótese. «Perante situações em que os meios locais estejam total ou parcialmente destruídos e não possam prestar cuidados às populações que servem», essa função caberá ao hospital de campanha do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Luís Fernandes, enfermeiro do departamento de emergência médica, revela que esta não é a primeira vez que colaboram no “Orion”. Contudo, este ano o Exército achou por bem dar alguma ênfase ao apoio à comunidade. Até hoje, realizaram-se seis cursos de suporte básico de vida, destinados à população em geral, profissionais de saúde, educadores de infância, alunos e professores da escola secundária. Além disso, o INEM prestou cuidados junto dos militares em exercício e, a partir do hospital de campanha – dezena e meia de grandes tendas montadas junto ao Estádio Municipal do Sabugal – respondeu a solicitações médicas junto da população.

Na cidade esteve um número reduzido de médicos, enfermeiros e técnicos, mas o suficiente «para garantir o apoio em termos de viaturas, realizar os cursos e a montagem do hospital», refere Luís Fernandes. Junto ao hospital de campanha esteve também um contingente militar. «Isto mostra um exército moderno, com uma missão mais empreendedora dentro das forças vivas da sociedade. É uma eventualidade, mas precisa de ser simulada», sustenta o alferes Azenha. Isto, «sem prejudicar a acção de socorro que está a funcionar», explica o militar: «Para a população civil nem sempre é perceptível este tipo de colaboração com o INEM, mas é uma mais-valia a reforçar no futuro», considera.

Igor de Sousa Costa

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