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Fogos regressaram em força

Delegado do SNBPC da Guarda suspeita que a maioria dos recentes incêndios possam dever-se a queimadas provocadas por pastores

Os incêndios regressaram em força ao distrito da Guarda nos últimos dias, após um Verão inesperadamente calmo. As altas temperaturas registadas ao longo da semana passada proporcionaram o ambiente ideal para o surgimento de vários fogos de algumas proporções nos concelhos de Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Mêda, Pinhel, Sabugal e Vila Nova de Foz Côa, fazendo ressoar novamente as sirenes das corporações para mobilizar mais de duas centenas de bombeiros. Um cenário que já levou o delegado do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) da Guarda a suspeitar que a maioria destes sinistros possam dever-se a queimadas provocadas por pastores.

António Fonseca explica essa suspeita com o facto das pessoas «teimarem em levar a cabo práticas antigas para aproveitarem os últimos dias antes das chuvas e assim renovarem os pastos. O problema é que são feitas sem a vigilância das entidades competentes, alastrando depois por causas diversas». Aquele responsável não duvida mesmo da intervenção do homem nalguns casos, sublinhando que a maior parte dos recentes incêndios «não são descuidos» porque já não se verificam as temperaturas que se fizeram sentir no final de Julho: «Grande parte deles, até porque surgem durante a manhã ou durante a noite, quando as temperaturas são mais baixas, são incêndios intencionais», acredita o delegado do SNBPC, que espera agora que a descida das temperaturas e o aumento da nebulosidade anunciado para os próximos dias possam contribuir para a redução do número de incêndios florestais no distrito. Desde a passada quarta-feira que os bombeiros não têm tido descanso, sendo chamados a combater as chamas nos quatro cantos do distrito. Contudo, a situação piorou no fim-de-semana com os fogos de Rapa (Celorico da Beira)/Aldeia Viçosa (Guarda) e de Rocamador (Sabugal).

Este último chegou a ser dado como extinto na manhã de segunda-feira, mas reacendeu-se durante a tarde numa zona densamente florestada com povoamento misto. Só ao princípio da noite é que o incêndio voltou a ser dado como extinto, tendo sido combatido durante dois dias por um total de 79 bombeiros de seis corporações, apoiados por seis viaturas e um helicóptero. As chamas deflagraram numa zona acidentada, com mato arbustivo, carvalhos, pinhal e algumas explorações agrícolas de características familiares, mas desde sexta-feira que o concelho estava a ser fustigado por vários focos, com destaque para os sinistros registados nas imediações de Vila do Touro, Casteleiro e na antiga Colónia Agrícola de Martin-Rei. Também no domingo eclodiu um incêndio de grandes proporções nas proximidades da Rapa, numa zona montanhosa, que se manteve activo até ao princípio da tarde do dia seguinte e progrediu até às freguesias de Aldeia Viçosa e Misarela consumindo uma vasta área de mata, floresta e algumas culturas, principalmente oliveiras. A zona afectada, sobranceira ao rio Mondego, pertence ao Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), cujo director, Fernando de Matos, estima em mais de 200 hectares a área consumida pelas chamas. Ocorrências que prometem fazer subir os números da área ardida no distrito da Guarda, onde tinham ardido, no período compreendido entre 1 de Janeiro e 26 de Setembro último, perto de 8.800 hectares. Segundo os últimos dados da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, datados de 30 de Setembro, significa mesmo assim menos sete por cento que a área ardida no ano passado na Guarda.

Luis Martins

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