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Fogos já consumiram 11 mil hectares do PNSE

Área ardida este ano é mais do dobro da registada em 2003, que era até agora o pior índice de sempre do Parque Natural da Serra da Estrela

O Parque Natural da Serra da Estrela é a área protegida do país com maior extensão ardida desde Janeiro. De acordo com os últimos dados do Ministério do Ambiente, divulgados na passada quinta-feira, as chamas já consumiram este ano 11 mil hectares. É mais do dobro da área devastada em 2003, quando arderam 5.500 hectares. Trata-se de um número sem precedentes na história do parque, o maior de Portugal com 110 mil hectares, pasto recente de grandes incêndios nos concelhos de Seia, Gouveia, Covilhã e Manteigas, onde só na semana passada terão ardido mais de três mil hectares.

Está assim pulverizado o registo mais elevado de área ardida desde a criação do parque, em Julho de 1976, contrastando flagrantemente com as estatísticas do ano passado quando arderam apenas 310 hectares, a menor área queimada de sempre. A tutela garante que os incêndios não terão sido «preocupantes» do ponto de vista da conservação da natureza devido à grande capacidade de regeneração das espécies florestais. No PNSE foram afectadas zonas de Rede Natura, mas com «bom potencial de regeneração», sublinhou o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, após uma reunião com os directores dos parques naturais. Contudo, Fernando Matos, director do PNSE, diz-se preocupado com a erosão que se possa vir a dar em encostas com declives muito acentuados e já apresentou ao ministério e ao Instituto de Conservação da Natureza (ICN) uma proposta para a constituição de uma equipa de trabalho para analisar esta questão. Segundo o governante, os responsáveis dos parques naturais vão agora proceder a acções de monitorização das áreas ardidas para verificar se de facto há regeneração das espécies. A nível nacional, arderam cerca de 15.500 hectares de área protegida, em 400 incêndios distintos. No Parque Natural do Douro Internacional foram apenas consumidos 17 hectares.

Entretanto, o Governo recusou decretar o estado de calamidade pública para as zonas mais afectadas pelos incêndios das últimas semanas. Numa reunião com o ministro da Administração Interna, na sexta-feira, os governadores civis apresentaram os prejuízos causados pelos fogos em 16 distritos e discutiram as medidas de apoio para as pessoas, bens e as áreas florestais ardidas. No caso do distrito da Guarda, a Governadora Civil considerou «inútil» avançar com essa medida. Para Maria do Carmo, o distrito está em condições de resolver todas as situações, sem ser necessário decretar o estado de calamidade pública. «As Câmaras dos concelhos mais afectados e a Segurança Social já estão a actuar e têm respondido às primeiras necessidades das populações afectadas», afirmou, entendendo que «não houve falta de meios no combate aos incêndios» e que a resposta não foi mais rápida «devido ao acidentado do terreno», nomeadamente em Manteigas. Contudo, esta opção desagradou sobremaneira a José Manuel Biscaia, autarca manteiguense. No terreno já está mais uma campanha nacional de prevenção dos incêndios florestais dirigida a agricultores, proprietários, pastores, caçadores e emigrantes, que inclui a distribuição de folhetos e sessões públicas.

Da responsabilidade da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, a acção vai decorrer até Outubro sob o lema “Entre a Cinza e o Verde, Você Decide” e será dirigida também às populações de áreas que interagem com espaços de floresta. Dados do último relatório da Direcção-Geral dos Recursos Florestais indicam que mais de 52 mil hectares de floresta arderam em Portugal Continental em Julho, o pior mês desde o início do ano, elevando para 68.290 hectares a área destruída pelos incêndios nos primeiros sete meses de 2005. Até dia 31 de Julho o distrito mais afectado foi o da Guarda (9.713 hectares), seguido de Castelo Branco (9.617 hectares) e Porto (7.976 hectares).

Luis Martins

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