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Fogos, bombeiros, políticos

Nos últimos tempos dei por mim a pensar na ligação entre estas três palavras, não é minha pretensão maçar os leitores, mas tão só dar conta da minha análise.

Estamos na fase “Charlie” e embora com menos ignições os fogos já começaram, há quinze dias, em Gouveia e Pinhel. Como sempre nos habituaram, os bombeiros, com o apoio dos meios aéreos, dominaram os citados incêndios sem grandes problemas.

Não sei se todos os combatentes estavam equipados com os EPI – Equipamentos de Protecção Individual recomendado e que tanta tinta tem feito correr, contudo importa deixar claro algumas coisas.

A aquisição dos equipamentos dos bombeiros é da responsabilidade das Associações como entidades detentoras dos corpos de bombeiros, dito isto, é necessário juntar que são as entidades detentoras as responsáveis pela segurança dos bombeiros e obviamente devem colocar à disposição destes os EPI suficientes e de qualidade, conforme as normas legais referentes a este equipamento.

Nos últimos meses temos lido com frequência que as CIM – Comunidades Intermunicipais adquiriram, não adquiriram, os EPI prometidos pelo MAI em 2013 para 50 por cento do efetivo dos corpos de bombeiros. Dito assim, podemos concluir que era o primeiro passo para os bombeiros possuírem EPI com qualidade que lhes permitia continuarem a ser agressivos no combate e não correr riscos.

Acontece que não houve uniformidade de critérios por parte das CIM e, como a legislação mudou a meio dos concursos públicos, umas compraram EPI sem qualidade, outras, mais atentas, adquiriram e entregaram parte dos EPI certificados e, por último, a CIM das Beiras e Serra da Estrela ou perdeu o comboio, isto é, o financiamento, ou adiou mais uma vez a aquisição dos EPI. Acho que não devemos ficar admirados, pois a primeira e, ao que parece, única preocupação nos últimos meses foi escolherem os secretários executivos, todos sabemos que em política é sempre assim.

Entretanto, o que mais me admira é que nem as associações de bombeiros, nem os diversos autarcas reagiram a esta falta de respeito pelos bombeiros.

Todos desejamos não ter em 2014 o drama de 2013 com oito bombeiros e um autarca mortos. Mas é também altura para exigirmos que se continue a falar de fogos no outono e todo o ano para exigirmos que a famigerada burocracia e outros interesses não atrase mais a compra dos EPI. Para exigirmos que a prevenção não se resuma a limpeza de herbáceas e arbustivas na berma das estradas. Para exigirmos que o apoio às associações/corpos de bombeiros não seja influenciado pela cor política dos dirigentes. Para exigirmos que se construam os quartéis de bombeiros cujo financiamento já se encontra contratualizado. Para exigirmos que os proprietários com prejuízos resultantes dos incêndios, além de ficarem sem os bens, venham a ser esquecidos pelas entidades públicas, como aconteceu aos proprietários da Covilhã, Guarda e Trancoso.

Algumas vezes dou comigo a pensar que estamos todos, cidadãos, autarquias e o próprio Estado, resignados à tragédia dos fogos, porque até que me provem o contrário nesta luta os bombeiros estão quase sempre sozinhos. E se um dia os bombeiros fazem greve?

Rogério Castela, Trancoso

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