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Florial

1. Ao fim de uma longa saga palaciana, com avanços e recuos dignos de um documentário de vida animal, Álvaro Amaro será o candidato oficial do PSD à Câmara da Guarda. Desta vez, a coisa é mesmo a sério. No mesmo dia, deu entrada a providência cautelar promovida pela associação “Revolução Branca”, que, como tudo indica, o irá impedir de concorrer. Ao que parece, o partido já tem um plano B para tal eventualidade. Que poderá ser mesmo outro dinossauro, que irá enfrentar nova providência. Como se nota, o PSD prima pela renovação do pessoal político, do projecto e do discurso… Nada de debate ideológico na área do centro-direita, discussão de ideias e projectos para a cidade e aberta aos cidadãos. Zero. A apresentação pública de Amaro primou aliás pela vulgaridade. Centrando o futuro da Guarda em ser ou não capital da Comurbeiras. Ou seja, uma invenção administrativa de autarcas com futuro incerto, destinada a expandir a Covilhã e promover o seu inefável presidente da Câmara, como é sabido. Adivinhem então qual foi a frase chave do novel cabeça de lista. Pois bem, Amaro propõe-se “devolver à Guarda e aos seus guardenses o seu orgulho e a sua auto-estima”. Teme-se o pior.

2. Algumas memórias podem provocar efeitos secundários. arrepios, sorrisos rasgados, vertigens, sabores que se recuperam, vozes que vagueiam e de repente retornam, rostos imprecisos e luminosos que recuperamos sem saber porquê, aromas que nos projectam através do tempo… Tudo isso é verdade. Mas há mais, algo para o qual nunca saberei ter uma resposta. Nem talvez a queira ter. Para não destruir o milagre. Pressentindo que a fusão plena com certos lugares não seja tão inócua como parece. Permitindo dizer somente um “até sempre”! (Praia de Alteirinhos, Zambujeira do Mar)

3. Não tenho dúvidas que Margaret Tatcher será recordada sobretudo pela maneira como redefiniu o panorama político britânico e europeu, numa época em que as forças vivas do “socialismo” ainda dispunham de trunfos decisivos, como é sabido. Mas sê-lo-a também pelas resistência colossais que enfrentou e venceu. De tal forma que muitos dos que a combateram tiveram mesmo de alterar o seu discurso e a prática política. Ou seja, a 3ª via posta em prática por Blair e teorizada Giddens seria impossível sem Tatcher. Aliás, como refere Angel Rivero no artigo “El Nuevo Laborismo de Blair y el Populismo” (in “Cuadernos de Pensamiento Político”, nº 33, Jan/Fev 2012, Madrid), “el Nuevo Laborismo queria ser um movimiento que gobernara um nuevo Reino Unido”, ou seja, “el Reino Unido creado por Tatcher”. Conta-se que, numa avaliação do departamento de recursos humanos de uma empresa a que a ex PM se candidatou em 1948, concluiu-se que ela era” teimosa, obstinada e perigosamente opinativa”.

4. Uns suspensos na corda do tempo. Outros agarrados a ela como se nada mais existisse. Outros já só esperam o tropeção kafkiano. Melhor será percorrê-la como um equilibrista. Sem rede.

Por: António Godinho Gil

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