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FINCAPÉ

O meu pequeno e antigo dicionário de bolso de Português define escola como “a casa ou estabelecimento onde se ensina”.

Não esqueço a minha condição de professora. Sinto, por isso, mais uma vez a necessidade de reflectir sobre a escola e o processo de aprendizagem.

Ora o que observamos na escola?

Edifícios degradados com falta de equipamentos actuais e/ou edifícios modernos de gosto duvidoso ou em vias de modernização com que os alunos, por vezes, não se identificam e só lá vão porque não têm melhor sítio para ir. A escola deve prever a situação.

Programas extensos e desajustados dos interesses dos alunos. A escola deve contornar a situação.

Professores responsáveis pelo ensino de mais de oitenta ou cem alunos, mal pagos, desmotivados para quase tudo o que não seja “dar a aula”, com falta de formação específica para tratar os complexos problemas que os estudantes lhes trazem e desmoralizados por um sistema que não reforça a sua autoridade. A escola deve encontrar a solução.

Alunos manipulados pelo mesmo sistema que asfixia a sua criatividade e facilita o caminho da aprendizagem para alcançar o sucesso educativo, que manifestam cada vez mais dificuldades de aprendizagem e gostam apenas do convívio, considerando as aulas uma “seca”. Alunos oriundos de ambientes familiares desestruturados que não conseguem o mínimo de estabilidade para uma aprendizagem normal. E também aqui a solução deve ser encontrada na escola.

Pais que transferem para a escola a responsabilidade da educação dos seus filhos por razões de falta de tempo, dúvidas ou problemas de comunicação; que não conseguem transmitir esperança e dar amor, porque as dificuldades do dia-a-dia impedem a afectividade necessária ao seu desenvolvimento e são, por vezes, confrontados com problemas que nunca viveram (álcool, sexualidade, droga, SIDA, entre outros). E a solução tem que ser encontrada na escola.

Associações de estudantes partidarizadas e/ou sem meios para realizarem as suas iniciativas.

Directores executivos e respectivas equipas divididos entre a obediência ao Ministério da Educação e a lealdade aos colegas professores ou fiéis seguidores que a tudo dizem “sim”. A escola convive com a situação.

Reuniões apressadas, a horas inconvenientes, entre professores e encarregados de educação, onde se fala de alunos perturbadores, indisciplina, violência…

E afinal a escola tem solução?

Não penso que seja possível algum professor continuar a pensar que o ensino se confina ao conjunto de informações referentes ao programa.

Estou firmemente convencida que é urgente alterar tudo isto. Quero dizer agora, no entanto, que é necessário fazer algo mais: devolver a todos os intervenientes no processo educativo o seu papel soberano dentro do contexto escolar.

Vendo as coisas com algum realismo e alguma profundidade, é necessário perceber que na escola ninguém está satisfeito.

por Carla Almeida*

* professora

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