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Finança, Austeridade e Jogo

Uma mulher pede emprestado dez mil euros a um banco para manter as despesas da sua casa. Ela ganha 450 euros por mês. Vai pagar em dez anos, sem juros, 83,33 euros por mês. Se o juro for de 7% do total paga mais 5,83 euros por mês durante 120 meses.

Se forem 7% por cada ano de empréstimo, então uma multiplicação complexa que abate e multiplica várias vezes dá: 1.0700-1.069,9 = 9.630,7 euros para o segundo ano. 9630,7 com 674 (dos 7% de juro) dá 1.0304,85 euros que se dividem por 108 meses que faltam pagar, ou seja 95,41 euros. 1.0304,8-1.144.92 é a dívida do ano seguinte. Partimos de 9.159 euros mais 7% de juros (641,13 euros). A dívida é agora de 9.800 euros. Em dois anos pagámos 2.214,8 euros e temos uma dívida de 9.800 euros. A diferença de um empréstimo para o outro é apenas a expressão “ao ano”. O lucro cresce de modo exponencial. O mesmo se passa com os valores de mercado que se referem a taxas de indexação e outros jogos financeiros. Uma empresa pode perder milhões em segundos, ou ganhar milhares de milhões dependendo de uma decisão arbitrária e tomada por alguém num computador remoto de Londres. Sobe-se a Euribor? Baixa-se o “spread”? As empresas públicas com empréstimos podem perder fortunas apesar de terem tomado decisões perfeitas e corretas. O jogo financeiro que desce o petróleo ou sobe o barril, ou aposta em Fundos, decide as nossas vidas como se fossemos peões num jogo dos nossos filhos. Eles matam, eles sangram, eles arrastam enquanto sorriem. São apenas movimentos de dedos. Agora o jogo não está no computador. Somos nós a ser empurrados, acumulados, convertidos em peças de jogo. Este é o problema das nossas vidas, não é a austeridade ou a dívida pública. Há um jogo financeiro que altera padrões, que muda regras, que cria valores sem base física. São garantias de meninos, são empresas como o Facebook que podem não ter nenhum espaço físico, são forças infantis a dominar um Universo que deixámos de compreender. Não há Portugal que nos valha. A mudança tem de vir de cima. Regular o mercado, educar as crianças, controlar o recreio da finança e retirar as pessoas deste Jogo.

Por: Diogo Cabrita

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