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Finalmente a Igualdade

O PIDDAC da Guarda para 2007 vai contemplar investimentos no distrito de cerca de 68 milhões de euros. O grosso do investimento vai para o museu do Côa, que o resto são trocos. A “Estrada Verde”, a ansiada ligação entre o Maciço Central e a Guarda que poderia dar um decisivo impulso à região como destino turístico, vai ficar outra vez de fora. Novo hospital? Esqueçam, mas esqueçam de vez. Vai haver umas obras no actual e já é muito bom.

É verdade que o Distrito da Guarda tinha, de acordo com os censos de 2001, pouco mais de 170 mil habitantes. Bastante menos que a Madeira, com mais de 250 mil. É verdade também que hoje terá ainda menos, já que o único concelho a aumentar a população foi o da Guarda, aliás à custa dos outros. Mas mesmo assim custa ver que a Madeira conseguiu disponibilizar no seu orçamento para 2006, na rubrica “desporto e ocupação dos tempos livres”, depois subdividida em 9 projectos (quase todos envolvendo clubes profissionais de futebol e as respectivas SAD), mais de 26 milhões de euros – incluindo mais de três milhões e meio de euros para apoio a deslocações em competições nacionais e internacionais. Creio que com menos poderíamos ter a tal “estrada verde”. Bastaria provavelmente uma fracção das dezenas de milhões de euros que vai custar o novo estádio que Alberto João Jardim promete para a Madeira. Ou dos milhões que actualmente gasta em publicidade, propaganda e obras faraónicas, tudo à custa do endividamento da sua região e na expectativa de que o governo da República lhe venha depois a assumir a dívida.

Para tudo isto, tem bastado a Alberto João sugerir, directamente ou por interposta pessoa, que a Madeira pode querer a independência se lhe não satisfizerem os vastos apetites. Foi o caso há dias do presidente do PSD/Madeira, chamado Coito Pita (não é alcunha?). É claro que não cuidam muito de assegurar verosimilhança ao discurso, que “independência” é característica daqueles que não dependem de ninguém, em sentido algum, e a Madeira é manifestamente incapaz de sobreviver sem as transferências financeiras dos contribuintes do resto do pais. Por isso tem Alberto João outro trunfo na manga, com que tem jogado legislatura atrás de legislatura: o poder dos deputados da região na Assembleia da República quando as maiorias são tão curtas que quatro ou cinco deputados podem fazer a diferença. Foi assim que viu ser sucessivamente perdoada a dívida da região, e sucessivamente permitidos novos e cada vez maiores endividamentos, até chegar à actual situação de ter ultrapassado em quase 150 milhões de euros a capacidade de endividamento da região (com esta verba faríamos uma auto-estrada entre a Guarda e o Maciço Central).

Sempre me surpreendeu a passividade dos autarcas do continente face às desmesuradas e injustas regalias que a Madeira ia recebendo. Mesmo que não tivessem as mesmas armas e não pudessem chantagear com a mesma eficiência, sempre poderiam ao menos berrar um pouco. Mas não, era como se não percebessem que o que ia a mais para o Funchal ia a menos para o seu próprio concelho. Que com impostos mais baixos, uma zona franca, limites de endividamento até ao céu, todas as obras e promessas eram ali possíveis e cá também o seriam em idênticas condições. A comparação agora, infelizmente é outra, é que os autarcas do continente se podem comparar aos madeirenses naquilo que têm de comum: a massa acabou para todos.

Sugestões:

Um referendo: independência para a Madeira. Continuariam a odiar-nos e a insultar-nos, mas pelo menos deixavam de fazer despesa.

Um livro: As Origens do Totalitarismo (Hannah Arendt, Dom Quixote, 2006). Publicado pela primeira vez em 1951, este livro é hoje considerado um clássico. Para além do totalitarismo, Hanna Arendt analisa também o anti-semitismo e o imperialismo.

Por: António Ferreira

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