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Finalmente!

Corta!

Numa altura em que as salas de cinema atraem cada vez menos pessoas, e nos arredores de Lisboa acaba de encerrar um complexo de vinte salas de cinema, com capacidade para cinco mil espectadores, a Covilhã vê nascer quatro novas salas de cinema, que se irão juntar às duas que já exibiam filmes regularmente. É, actualmente, uma das cidades do interior do país com maior número de salas. As capitais de distrito Guarda e Castelo Branco, por exemplo, continuam a contar apenas com uma única sala. A juntar a isto, é importante referir que cada uma destas salas pretende ter entre quatro a cinco sessões diárias. Não há fome que não dê em fartura.

Mais salas, maior variedade. Finalmente será possível ver aqueles filmes de que se ouve falar tanto e tão bem, mas que quase sempre andam arredados dos circuitos habituais de Lisboa e Porto. Na teoria deveria ser assim. No entanto, as primeiras amostras, não trazem lá muito boas notícias. Na sua primeira semana de exibições, os filmes escolhidos passam pelo inevitável Harry Potter, e coisas como Profundo Azul e Doom – Sobrevivência, filmes americanos de segundo escalão, ou o terror pipoca de um Amityville – A Mansão do Diabo. Na segunda semana as escolhas não variaram muito. Será melhor que nada, mas não deixa de trazer consigo uma ligeira sensação de desilusão. A quantidade, agora, já existe, que venha de lá a qualidade. Ou antes, a variedade. Que a qualidade é coisa duvidosa de definir e cada lá tem os seus parâmetros.

Meirelles

O sucesso do filme brasileiro Cidade de Deus teve tanto de inesperado quanto de grandioso. Poucos anos depois da sua estreia, é já uma presença constante nas listas dos melhores filmes de todos os tempos, quase sempre recheadas de filmes com muitos anos em cima. Oriundo de uma cinematografia periférica, não se esperava tanto de um filme que, ainda para mais, era uma primeira obra.

O seu realizador, Fernando Meirelles, tinha conseguido trazer de novo para os ecrãs de todo o mundo a energia que, desde as primeiras obras de Scorsese (como Mean Streets ou Goodfellas – Tudo Bons Rapazes), pareciam andar arredadas dos ecrãs de cinema.

Que se poderia seguir a tão fantástica estreia? O risco de desilusão era grande. Quase uma certeza. Impossível sobreviver depois de uma estreia daquelas. Por vezes, pior que não conseguir fazer um filme bom, é fazer um excelente filme logo a começar e nunca mais se conseguir atingir patamar tão elevado. Passando assim a viver-se para sempre na sombra daquilo que já ficou para trás. Alguém desse lado já ouviu falar de Citizen Kane e Orson Welles? O segundo filme é o tira-teimas. Onde cada um procura descobrir se determinado realizador é tão bom quanto a sua estreia fazia crer. Terá sido obra do acaso? Com O Fiel Jardineiro, Meirelles prova que Cidade de Deus era apenas um primeiro sinal de um realizador, com personalidade, que tem muito para dar.

Filme de encomenda, baseado num livro de John Le Carre, Meirelles não se deixou prender nos espartilhos de um romance que pouco ou nada tem a ver com aquilo onde ele se sente mais à vontade. O registo cru e quase documental que o seu primeiro filme tinha, ainda por lá anda, e é aí que O Fiel Jardineiro mais dá cartas. A juntar a isso, Meirelles consegue ainda construir, dentro do mesmo filme, uma bela história de amor e um thriller que se consegue aguentar muito competentemente até ao fim. Entre uma África quente e colorida e uma fria e cinzentona Inglaterra, O Fiel Jardineiro é mais que recomendável filme.

Por : Hugo Sousa

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