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Finalistas do ensino superior reclamam um futuro

De “canudo” na mão e olhos postos no futuro, alguns jovens guardenses – que terminaram este ano o respetivo curso superior – já pensam na independência financeira. No meio das dificuldades que a cidade e o país atravessam, emigrar pode ser a solução.

«A formação é sempre uma mais-valia»

Kátia Dias

22 anos

Licenciada em Enfermagem (Guarda)

Ano de entrada: 2009

«Queria entrar num curso de saúde, mas estava indecisa», lembra Kátia Dias. A vontade de cuidar dos outros concretizou-se com a entrada em Enfermagem na Escola Superior de Saúde da Guarda, da qual saiu recentemente. «Não me arrependi da escolha, é uma profissão muito gratificante», considera.

Sem esquecer as dificuldades que o ensino superior também sente, como os “cortes” no orçamento, a guardense sublinha que «a formação é sempre uma mais-valia», isto porque «fez-me crescer como pessoa e profissional», assevera. O objetivo de Kátia é entrar «o mais depressa possível» no mercado de trabalho, mas, se tal não acontecer, vai apostar em formações e pós-graduações para «enriquecer o currículo e aumentar as minhas hipóteses de encontrar emprego». A sua ambição esbarra na taxa de desemprego de recém-licenciados e, apesar do desejo de continuar na Guarda, «penso que tal não será possível», estima. «As universidades e os politécnicos abrem demasiadas vagas para a capacidade que o país tem de oferecer emprego aos jovens», lamenta a enfermeira, constatando que o país «oferece muita “mão-de-obra” ao estrangeiro».

«A nossa terra é onde trabalhamos»

Albino Bárbara

25 anos

Licenciado em Educação Física e Desporto (Funchal)

Ano de entrada: 2010

Albino Bárbara terminou este ano a licenciatura em Educação Física e Desporto, na Universidade da Madeira, para onde rumou motivado pelo «gosto pessoal e testes psicotécnicos», sublinha. Atualmente no mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, o jovem vai conciliar os estudos com avaliações físicas num ginásio do Funchal – onde também monitoriza a sala de cardio e musculação –, bem como o treino de equipas femininas de sub-14 e sub-16.

«A nossa terra é onde trabalhamos. Gosto da cidade onde nasci, mas não chega», considera o jovem. «Nesta área é difícil ter emprego garantido», acrescenta, adiantando que há outras possibilidades, como dar aulas de grupo em ginásios ou associações, treinos personalizados e ainda os setores de turismo e aventura. Quanto ao ensino superior, o guardense diz que está «desfasado da realidade», uma vez que «há licenciaturas com muitas vagas mas não há mercado para quem sai de lá». Por outro lado, Albino constata que «as pessoas levam um estilo de vida mais sedentário» que deve ser combatido, mas «é importante que a prática seja acompanhada de professores ou monitores com competência». No entanto, a componente social é «determinante»: «Se falharmos na parte pessoal, o conhecimento e a competência vão valer de muito pouco», considera.

«A Guarda tem que nos incentivar»

Marta Morgado

21 anos

Licenciada em Gestão (Aveiro)

Ano de entrada: 2010

Pode dizer-se que Marta Morgado escolheu Gestão em criança: «Queria abrir um bar, um ginásio ou uma cadeira de hotéis: a vontade de gerir esteve sempre presente», afiança. A guardense não teve, por isso, «qualquer dúvida» quando se candidatou ao ensino superior e “viajou” para a Universidade de Aveiro.

«O curso era o que esperava, tive sempre a certeza de que estava no caminho certo», lembra. A preparação do futuro acompanhou o último semestre de aulas, tendo optado por ingressar no mercado de trabalho. A jovem quer ganhar experiência para depois «decidir acertadamente o mestrado a seguir», revela, acrescentando que, em setembro, vai para a Holanda. Lá espera-a um estágio de seis meses, estando «preparada e motivada para lutar» pela sua profissão. Porém, a primeira escolha foi a Guarda, mas não surgiram oportunidades: «Para que a Guarda possa fazer parte do nosso futuro tem que nos incentivar, mostrando que podemos ser alguém aqui», considera. Marta lamenta ter de «fugir», mas «falta investimento empresarial», justifica.

Já em relação ao ensino superior, a jovem reconhece que «os planos curriculares deveriam ser analisados e adaptados às necessidades do mercado» e reclama «mais apoios» para estudantes com dificuldades.

«Gostaria de experimentar diferentes áreas»

Rita Rodrigues

25 anos

Mestre em Ciências Farmacêuticas (Coimbra)

Ano de entrada: 2008

«Sempre gostei muito de Química e Biologia, e desde pequena que a área da saúde me cativou», refere Rita Rodrigues. A guardense, que concluiu o mestrado em Ciências Farmacêuticas na Universidade de Coimbra, acredita que tomou a decisão certa: «Achei que o curso iria englobar as minhas áreas de interesse e não me enganei», adianta.

A recém-licenciada destaca os «excelentes» professores que teve, assim como as pessoas com quem partilhou a “aventura” dos últimos anos: «A universidade é de facto uma escola de vida para a vida», conclui, considerando que «estes anos em Coimbra permitiram-me crescer e transmitiram-me bases essenciais para o meu futuro profissional». O próximo passo é encontrar o primeiro emprego, sendo que depois «gostaria de experimentar diferentes áreas, que podem passar pela investigação ou farmácia comunitária», declara. Por agora, o otimismo é comedido, já que, «muitas vezes, a emigração é a única janela que se abre para nós», o que contraria a vontade de «dar um contributo à cidade que me viu nascer», lamenta.

Face ao estado atual do ensino superior, Rita não tem dúvidas: «Por vezes, as universidades abrem ou mantêm cursos em que a viabilidade de emprego é baixa, pelo que há consequências», salienta.

Sara Quelhas

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