Arquivo

Fim-de-semana infernal em Manteigas

Dois fogos terão consumido mais de 600 hectares de mato e floresta protegida do parque natural. Presidente da Câmara diz que chegou a hora de se fazer gestão e planeamento florestal na Serra da Estrela

Mais de 600 hectares de mato e floresta protegida do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) terão ardido no fim-de-semana no concelho de Manteigas. A estimativa é da autarquia e das autoridades após dois dias sem descanso devido a incêndios que estiveram ativos mais de 24 horas naquela que foi a pior situação registada até ao momento no distrito da Guarda.

No sábado as chamas consumiram uma encosta do Vale Glaciar e no domingo lavraram numa zona densamente florestada de Sameiro com três frentes. Uma delas chegou a aproximar-se da população durante a noite, mas a pronta intervenção dos bombeiros evitou o pior. Os dois fogos registados em zonas íngremes e de acessos difíceis mobilizaram mais de 500 bombeiros, centenas de veículos e quase dez meios aéreos. Anteontem, 220 operacionais continuavam no terreno em ações de rescaldo e vigilância para evitar os reacendimentos. «É uma enorme perda ambiental», reagiu José Manuel Biscaia, para quem é preciso «uma intervenção florestal muito concreta» no PNSE. «Vimos verificando que as coisas não estão bem de certeza absoluta e, por isso, apelo ao ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] e aos baldios para equacionarem um estudo de gestão e planeamento florestal que não está feito», sublinhou o presidente do município.

Na sua opinião, «é importante fazer um estudo e a consequente intervenção no terreno relativamente às espécies arbóreas», optando pela «gradual substituição das espécies resinosas por espécies folhosas ou outras que, de alguma maneira, evitem ou pelo menos minimizem os efeitos de um incêndio». De resto, o autarca afirmou que não acredita que os incêndios do fim-de-semana tenham tido origem natural tendo em conta a hora e o local onde eclodiram. No Verão de 2015 arderam 650 hectares no concelho de Manteigas, num fogo que alastrou do vizinho município de Gouveia, onde as chamas consumiram cerca de 1.700 hectares. Considerado o maior incêndio na zona protegida do PNSE nos últimos anos, o incêndio começou no lugar da Senhora do Monte, na freguesia de Aldeias (Gouveia), e só foi dominado nas Penhas Douradas, já no concelho de Manteigas, com a ajuda da chuva ao fim de 48 horas.

Quercus acusa ANPC de «desvalorizar» impactes no PNSE

A Quercus está preocupada com o impacto dos incêndios registados em Manteigas dada «a importância ecológica» desta área do Parque Natural da Serra da Estrela.

Em comunicado, a associação ambientalista refere que o fogo que lavrou no Vale Glaciar do Zêzere terá afetado uma área de cerca de 200 hectares de floresta dominada por pinhal com carvalhos alvarinhos, no limite da Reserva Biogenética do Conselho da Europa. E lembra que naquela zona está a desenvolver o projeto “Life Taxus” com o objetivo de recuperar o habitat de teixos na Serra da Estrela. Já o incêndio de Sameiro destruiu uma área florestal também no Parque Natural e Sítio de Importância Comunitária da Serra da Estrela. «Estas ocorrências vêm referidas como estando a acontecer em “mato” pela Autoridade Nacional de Proteção Civil, contudo, são efetivamente em áreas florestais com povoamentos, mesmo que também incidam sobre áreas de mato, situação que parece recorrente para desvalorizar os impactes dos incêndios», critica a Quercus.

Luis Martins Quercus diz que ANPC «desvaloriza» impactes no PNSE

Sobre o autor

Leave a Reply