Arquivo

Filósofo, videirinho, ou quê?

O que o título quer é uma resposta cabal. Vamos tentá-la.

O Senhor (com maiúscula) António, alfaiate, de Famalicão da Serra, vinha à Guarda de motorizada atender os seus clientes; e ainda hoje há pessoas que conservam, algures em casa, roupa que ele confeccionou. Guardam do Senhor uma boa impressão.

Como milhares e milhares de pais da nossa região queria que o filho “fosse alguém” – e esse tão enobrecedor traço das nossas gentes toca-me profundamente.

Após Filosofia em Coimbra, seguiu para Roma trabalhar sobre Gramsci.

Uma vez que não se centra na pessoa, o Marxismo não tinha qualquer hipótese. Mas Gramsci é de imponente exemplaridade na História. Não apenas lutou pelos seus ideias como morreu na prisão, onde adoeceu gravemente. O Fascismo condenara-o a 20 anos.

Agora, o candidato a Presidente da Assembleia da Municipal da Guarda pelo P”S” trabalha na Complutense; e, quando se compara o conjunto de cursos leccionados em Coimbra com os da universidade madrilena, aquela fica a anos, “anos-luz”.

E todavia…

Secretário de Edite Estrela transitou para Chefe de Gabinete do famigerado ministro Vara e deixou-se envolver no caso da Fundação para a Prevenção Rodoviária, abundantemente noticiado pela imprensa. Desviar fundos para a Fundação, em nome de melhor gestão, era o objectivo alegado para os desígnios do partido. A realidade, veio porém a saber-se, era outra: como era difícil dar contexto legal às iniciativas pretendidas, a Fundação era um modo de não ter que prestar contas a ninguém.

Os desenvolvimentos são consabidos. Dada a magnitude do escândalo, o Presidente da República – socialista, Sampaio – compele Guterres a demitir o ministro.

Na tramóia, Vara foi o ideólogo; e o candidato a Presidente da Assembleia da Municipal da Guarda pelo P”S” o óbvio executor.

Um oráculo do citado partido diz dele que é “um pedante que ainda não passou das bordas”; e um dos homens mais inteligentes da Guarda, finíssimo observador, que é uma “ave d’arribação”.

Não se trata de ser desprimoroso: em Política, para diversos autores, “o que parece é”. Porque insólito foi também, durante um funeral, falar alto ao telemóvel e dizer, para todos ouvirem, que “já tinha falado com o ministro”, ou algo assim. Quem quer comentar?

Escrever na Imprensa postula contenção. Mas há questões que não podemos deixar de aduzir. Aqueles que, interiormente, cresceram verdadeiramente sabem que o saber académico, afinal, não passa disso mesmo. Vide, v.g., a entrevista de António Telmo à nossa Praça Velha n.º16. Ademais, julga-se de extrema importância (recorde-se que concitou Maria do Carmo Borges para se recandidatar e que escreveu um texto a justificar a sua candidatura, tal que nem Pródico subscreveria).

Quem o trouxe ou admitiu a candidato ignorava, ou sabia tudo isto? Em qualquer dos casos, que conclusão somos forçados a tirar?

Termino. Há meses, Vara licenciou-se; e o actual 1.º Ministro, um mês após, pô-lo como administrador da CGD. O prémio para João Agostinho foi a candidatura a Presidente da Assembleia da Municipal da Guarda?

A vinda do Dr. António Almeida Santos e do Secretário-Geral do PSOE, para já, é apenas uma “acção” de campanha. Lembra-me a atitude de Virgílio Bento e o seu tom de serviço quando, há c. 8 anos, na Rádio F, dava como adquirida a “modernização” da Linha da Beira Baixa, ao que eu – avançando para o microfone – energicamente proferi: “A ver vamos”. O Dr. Carlos Adaixo estava também presente.

Por mim, “recuso participar nas aventuras (…) e ideias dos que ainda se encontram cheios de ambição” (Thomas Moore, A Alma e o Espírito).

Guarda, 21-IX-05

Por: J. A. Alves Ambrósio

Sobre o autor

Leave a Reply