Um jornalista da revista americana “The Atlantic” foi a Cuba conversar com Fidel Castro. Entre almoços e visitas a aquários, “el comandante” proferiu três frases revisionistas notáveis:
“O sistema cubano já não serve nem para nós”; “Não há nada que se compare ao Holocausto” e “Nunca gostei de fatos de treino de poliéster”.
Há qualquer coisa com os estadistas depois dos 80 anos que os faz negar parte do que pensaram, fizeram e mandaram quando estavam no poder. Mário Soares, por exemplo, tombou para a esquerda folclórico-autoritária. José Sócrates, que aos 80 anos continuará a liderar o ranking Mister Sexy Platina do “Correio da Manhã”, deverá aderir completamente, por altura de 2040, aos ideais da democracia ocidental e das liberdades individuais, mesmo a tempo de terminar o seu último mandato como Primeiro-Ministro.
Fidel Castro ganha, mesmo com a concorrência de Soares, o título de grande cornudo do marxismo internacionalista. Castro foi o último a saber que o sistema cubano não funciona para ninguém. A economia não oficial e os resorts turísticos de Varadero são a prova da superioridade da iniciativa privada sobre a planificação estatal. Se calhar só agora é que o ex-ditador foi um spa do grupo Melià e percebeu que até as massagens no sector privado são melhores que as do funcionalismo público.
Ao contrário de Roger Garaudy, comunista convertido ao anti-sionismo e ao negacionismo, Fidel Castro é um comunista que defende a existência de Israel e que diz que os judeus sofreram como nenhum outro povo. Também mandou um recadinho a Ahmadinejad: deixem Israel em paz. Señor comandante, pode repetir? Na noite em que lhe leram as declarações de Castro, Hugo Chávez passou mal e pediu o equivalente indígena ao Alka-Seltzer (não vou sugerir que seja um derivado de coca porque está a começar a participação do Sporting na Liga Europa e não quero problemas com o governo venezuelano).
Quando o Comité Central ler a entrevista de Fidel, daqui a uns 20 anos – o PCP apercebeu-se o ano passado que o Muro de Berlim caiu e está agora a chegar às notícias que dão conta que a União Soviética é capaz de estar nas últimas – vai haver muito menino a ficar à porta da Festa do Avante se levar um kaffiyah ao pescoço. Se não acreditam em mim e no jornalista americano (e judeu, ainda por cima) da “The Atlantic”, podem consultar o arquivo do “Pravda” na Soeiro Pereira Gomes e procurar na edição 18 de Maio de 1948 o reconhecimento legal de Israel pela União Soviética. A história dá tantas voltas que um tipo precisa de se agarrar para não cair.
Felizmente, Saramago não acreditava na vida depois da morte. Se acreditasse, o senhor estaria agora assarapantado no Céu (um Nobel vai sempre para o Céu, acho eu) com a frase de Castro sobre a incomparabilidade do Holocausto. Logo Fidel Castro, a quem Saramago admirou tantos anos. Não há nada que se compare ao Holocausto? Como é que é, senõr presidente? Saramago chegou a dizer que a Palestina era pior que o Holocausto e os judeus, algozes piores que os nazis. Fez bem, señor Castro, esperar que Saramago se fosse deste mundo para defender Israel e os judeus. Um prémio Nobel não merece sofrer tanto. Já lhe bastava ter nascido português e ter apanhado com Sousa Lara.
Por: Nuno Amaral Jerónimo