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Festival “Ó Forcão Rapazes” continua a atrair milhares de aficionados

Nove freguesias do concelho do Sabugal mostraram como se pega ao forcão na praça de touros do Soito

À semelhança de anos anteriores, a praça de touros do Soito, no concelho do Sabugal, foi pequena para todos aqueles que quiseram assistir a mais uma edição do festival “Ó Forcão Rapazes” na tarde do último sábado. Cerca de 30 homens de cada uma das nove aldeias participantes aguentaram com firmeza as poderosas investidas dos animais neste autodenominado “Campeonato do Mundo” do forcão em que não houve vencedores, nem vencidos, mas não faltaram motivos para fazer vibrar os cerca de três mil espetadores.

Mais uma vez a tradição cumpriu-se e quando o espetáculo começou a praça já estava a “rebentar pelas costuras”. Cada equipa dispôs de 12 minutos para lidar o touro que lhe calhou em sorte. A ordem de entrada na arena foi previamente sorteada e coube a Aldeia Velha abrir as hostilidades, seguindo-se Ozendo, Soito, Forcalhos, Aldeia do Bispo, Aldeia da Ponte, Fóios, Lageosa da Raia e Alfaiates. Uns mais velhos, outros mais novos, com mais ou menos barriga, mas todos os rapazes demonstraram o mesmo afinco. Entre alguns sustos e uns quantos ferimentos ligeiros imperou a confraternização. O primeiro a ir ao chão quando tentava fugir do touro após a lide com o forcão foi Sérgio Fernandes, que ainda foi atingido pelo animal, mas nada que o impedisse de voltar à praça: «Foi um susto, faz parte. Não foi a primeira vez que fui ao chão mas quem lá vai dentro sabe ao que está sujeito. Magoei-me um bocadinho mas isto é “carne de cão” e passa rápido», declarou o elemento da equipa do Soito. A Aldeia do Bispo calhou um dos touros mais complicados da tarde, pois fez uma primeira investida muito forte que se prolongou por demasiado tempo, obrigando a equipa a rodar por diversas vezes. A lide com o forcão não demorou muito e, talvez para “compensar” a assistência, os homens foram dos mais empenhados na hora de “brincar” com o touro. José Isidoro, um dos elementos desta equipa, reconheceu que «não tivemos sorte com o touro. Deu muitas voltas seguidas, o que dificulta muito e torna-se mesmo muito cansativo para quem está a pegar».

“Mortal” e pega coletiva levaram assistência ao rubro

Dois dos momentos altos do espetáculo tiveram lugar já na terceira e última parte. O primeiro foi protagonizado pelos representantes dos Fóios cuja pega coletiva mereceu uma estrondosa ovação do público. Primeiro, Moisés Nunes, uma das caras mais conhecidas do festival, pegou no rabo do boi e fê-lo girar até os seus companheiros de equipa o rodearem e agarrarem. No entanto, a “largada” não correu bem para um dos intervenientes, que foi projetado no ar pelo animal e ainda sofreu alguns “estragos”, mas nada de grave: «É hábito em qualquer aldeia haver um moço ou outro que tenha mais jeito. Se o touro não for muito difícil e se não houver muito perigo para os nossos amigos há um que agarra o rabo e, neste caso, calhou-me a mim e depois o resto dos colegas vieram ajudar. Felizmente que ninguém se aleijou que é o que mais interessa nisto tudo», salienta Moisés Nunes, agente da PSP na Guarda.

Outro momento que arrancou grandes aplausos teve como protagonista um jovem francês, filho de uma emigrante oriunda de Alfaiates, que fez um “mortal” perfeito sobre o touro. Damien Pacheco explicou que costuma vir todos os anos à terra natal da mãe passar férias e garantiu que «não foi a primeira vez» que fez um “mortal” sobre o touro, adiantando que gosta «muito do ambiente» que se vive nesta altura na raia. Entretanto, os representantes da Lageosa da Raia sofreram um dos maiores sustos da tarde quando o touro conseguiu “furar” por debaixo do forcão e ainda feriu um jovem na perna, mas nada de grave. No final, ainda houve tempo para um misto de elementos de várias equipas lidarem mais um touro para gáudio da assistência. De resto, os touros, da ganadaria de José Manuel Duarte, mais conhecido por “Fininho”, investiram com tanta vontade no forcão que os “homens do martelo, dos pregos e da motoserra” tiveram de ser chamados por diversas vezes para reparar os estragos causados.

Este ano, o festival foi organizado pela Junta de Freguesia de Alfaiates e pela ARCO – Associação Recreativa e Cultural do Ozendo. Francisco Baltazar, presidente da Junta de Freguesia de Alfaiates, considerou que o evento «correu muito bem», revelando que «houve gente não pôde entrar porque já não havia mais lugares», tendo sido vendidos todos os 2.500 bilhetes postos à disposição. «Onde há cornos há touros. É assim que se diz na raia e isto é que junta as pessoas», ironizou o autarca, considerando que «esta é a maior festa da capeia “arraiana” no concelho do Sabugal». O concurso nasceu em 1986 e acabou transformado em festival para evitar controvérsias e desaguisados entre os participantes.

Ricardo Cordeiro Nem sempre as “brincadeiras” com o touro correm da melhor forma

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