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Festa é festa!

Editorial

1. A designação da cidade da Guarda para as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é motivo de regozijo e contribui para elevar a autoestima dos guardenses. O “10 de junho” é o dia da “portugalidade” que, em especial na “província”, é celebrado com grandiloquência e o patrocínio da Presidência da República – marcham as tropas, desfilam as personalidades, declamam-se palavras vãs, promove-se o cerimonial, formal e circunspecto, e, com solenidade, ouve-se o Presidente da República «avisar» do estado da Nação. Mas é uma jornada extensíssima. Uma jornada mediatizada e politizada; um dia em que há espaço para festejar um país empobrecido; que servirá para relevar a Guarda; um momento para revelar o melhor de um concelho atrasado e vilipendiado; um dia para sorrir, depois de tantos dias ensombrecidos pelas contrariedades; uma jornada para purgar todas as jornadas em que a Guarda foi ostracizada… um dia de festa, mesmo que não haja nada para festejar.

A designação da Guarda para a celebração do Dia de Portugal é, também, de júbilo para Álvaro Amaro que recupera protagonismo para a Guarda, mesmo quando a cidade ficou parada no tempo, e evidencia o seu próprio protagonismo junto dos corredores do poder – afinal, em contraste com um passado recente, os amigos são para as ocasiões… O próximo dia 10 de junho será um dia de festa para os guardenses, e será um momento de apoteose para o presidente da Câmara.

No dia seguinte tudo continuará na mesma, nada irá mudar, nenhuma transformação irá ocorrer – não haverá mais emprego nem mais empresas, não haverá uma nova economia, nem novas dinâmicas, nem melhor atividade cultural ou um novo impulso social… nada que justifique o foguetório. Mas numa cidade onde tudo correu mal ao longo de anos, que haja um dia de capitalidade, de celebração nacional, de evocação de Camões e de valorização das Comunidades Portuguesas (num concelho com tantos a viverem na diáspora) é um Dia de festa (não será seguramente como em 1977, quando Ramalho Eanes foi recebido por milhares de pessoas em euforia, naquele que foi o segundo ano da Democracia portuguesa e que na Guarda foi vivido com grande entusiasmo – queremos recordar esse dia, queremos conhecer e partilhar memórias e momentos que, fazendo parte do património de afetos de cada um, fazem parte, também, do património coletivo da cidade da Guarda: os leitores que tenham documentos, fotografias, relatos para contar do «Dia 10 de Junho» de 1977 podem fazer o obséquio de nos enviarem esses testemunhos para ointerior@ointerior.pt).

2. O Sanatório dos Ferroviários, na Covilhã, foi projetado pelo arquiteto Cottinelli Telmo nos anos 20. A sua construção foi da responsabilidade dos Caminho-de-ferro para tratamento de tuberculose dos seus funcionários. A construção demorou oito anos (1928-1936) e mais oito anos tardaram para ser aberto. Ao longo de mais de 40 anos, aquele sumptuoso e imponente edifício recebeu milhares de tuberculosos provenientes de todo o país. Com as novas técnicas de tratamento a dispensarem o recurso a centros de montanha, os sanatórios foram sendo encerrados, e o mesmo aconteceria com o Sanatório das Penhas da Saúde em 1969. O edifício seria depois aproveitado como albergue turístico (Abrigo dos Hermínios) e posteriormente, com a descolonização, foi utilizado para alojar retornados.

No próximo dia 1 de abril irá abrir como Pousada da Serra da Estrela. E não é uma partida de “1 de abril”. Por muito incrédulos que alguns ainda estejam, após 40 anos de completo abandono, depois de um projeto de recuperação exemplar de Souto de Moura e uma aposta da Turistrela, o grupo Pestana irá gerir uma unidade de excelência que irá servir visitantes e valorizar a região. Ainda há boas notícias no Interior.

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