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Fernão Joanes é marco na transumância nacional

Livro apresentado no último sábado é único no país sobre aquela actividade pastoril ancestral

A aldeia de Fernão Joanes, concelho da Guarda, está, desde o último fim-de-semana, ainda mais intimamente ligada à história da transumância a nível nacional. O livro “A Transumância e Fernão Joanes – Sonhos Transumantes” apresentado no sábado é a primeira publicação do país que versa sobre aquela prática pastoril ancestral. A quarta edição da Festa da Transumância voltou a agitar a aldeia que continua a reclamar apoio financeiro para que o projecto de recuperação das Eiras possa começar a ganhar vida.

“A Transumância e Fernão Joanes” inclui textos de João Paulo Martins das Neves, Alberto Martinho, Santiago Bayon Vera, Guillaume Lebaudy, P. Fabre, J.C. Duclos e G. Molénat, com fotografias de Arménio Bernardo. Alguns dos temas abordados são a história de Fernão Joanes e prática da transumância em Portugal, França e Espanha. Juntamente com o livro foi apresentado o CD-Rom “Chamamento”, um espectáculo de Américo Rodrigues, que inclui um vídeo, feito nas encostas da Serra da Estrelas com o pastor Zé Camilo e o seu rebanho. Estes trabalhos são duas edições da autarquia guardense e da Junta de Freguesia de Fernão Joanes. Américo Rodrigues, animador cultural da Câmara da Guarda, realçou que «não havia nenhum trabalho de investigação feito em Portugal sobre a transumância» e que era «urgente» que, em formato de livro, «se desse importância a esta prática, potenciadora de desenvolvimento», sublinhou. De resto, a ideia no futuro passa por distribuir estes catálogos, que surgem na sequência de outros livros dedicados aos cestos de Gonçalo e às campainhas e cobertores de papa de Maçainhas, a «nível internacional», indica. Também Daniel Vendeiro, presidente da Junta de Freguesia e da Associação Cultural e Recreativa de Fernão Joanes, frisou que o livro «é muito interessante» e que «traz algo de novo» para uma terra que está cravada na encosta da Serra da Estrela.

Câmara da Guarda «nunca virou costas» ao projecto

Vendeiro voltou a reafirmar que o projecto de revitalização das Eiras, uma auto-denominada e preservada “Aldeia Histórica de Animais” onde eram antigamente guardados os rebanhos ali existentes, «tem muita coisa de interessante» e por isso «deve ser apoiado», reforça. Trata-se da preservação de um «património único, tanto a nível do país, como da Europa», assevera. «Esperemos que as coisas se venham a desenvolver no futuro e que não se deixe morrer» um projecto, tido como «muito importante para a freguesia, mas também para o concelho», afirmou. A intervenção, apresentada no ano passado, parte do princípio que o uso agro-pecuário do local constitui um «valor em si próprio, inalienável, devendo ser mantido e reforçado» por valências didácticas e pedagógicas de divulgação e apoio, pela recuperação sustentada do espaço e a disponibilização de equipamentos para turismo rural e de Natureza, mas também para actividades artesanais e tradicionais da região. O projecto está orçado em cerca de 1,35 milhões de euros (270 mil contos), reunindo parceiros como a autarquia guardense e o Parque Natural da Serra da Estrela, e devia ter sido candidatado ao Interreg através da Pró-Raia. A intervenção deverá desenrolar-se em duas fases, correspondendo a primeira à recuperação e requalificação das “canadas” e caminhos usados pelos pastores. Está ainda prevista a construção de um centro de acolhimento e informação, centro de interpretação da transumância, ateliers, espaços de exposições e colóquios. A segunda fase implica a instalação de um Museu do Pastor, uma unidade de alojamento em ambiente rural, áreas para a criação equina e canina e um parque de estacionamento. Recorde-se que na semana passada, na apresentação da Festa, o presidente da ACR de Fernão Joanes criticou que o projecto «ficou-se pela maqueta porque não há vontade política para o concretizar», disse. Na resposta, Esmeraldo Carvalhinho, vereador da autarquia da Guarda, presente na cerimónia de apresentação do livro, salientou que «às vezes, confunde-se um pouco a falta de vontade política com a falta de condição económica», alertou. Do mesmo modo, avisou que «é necessário definir os parceiros e o valor para que o projecto possa ser candidatado ao Interreg», afirmou. Por último, garantiu que a Câmara «nunca virou costas» ao projecto.

Ricardo Cordeiro

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