Não é de agora a falta de médicos na Ortopedia do Hospital Sousa Martins, na Guarda. O serviço está a funcionar com quatro ortopedistas e três internos, sendo que um deles está «ausente em formação externa», segundo a ULS.
Numa resposta escrita, a Diretora Clínica para os Cuidados de Saúde Hospitalares, Fátima Cabral, garante que o serviço não está colocado em causa, mas sim «a formação da equipa de Urgência com dois médicos ortopedistas em presença física 24 horas por dia, que habitualmente é colmatada recorrendo a médicos de Ortopedia em prestação de serviço e com ortopedistas do CHUC, que em época de férias também têm menor disponibilidade». E é precisamente no período de férias que a situação piora, tal como confirma a ULS: «Os recursos médicos são insuficientes, a situação agrava-se em período de férias». Foi o que aconteceu esta semana com a transferência de uma criança de 11 anos com uma fratura no antebraço para o Centro Hospitalar Tondela-Viseu «por não haver ortopedista» na Urgência. «A minha revolta não é contra os profissionais de saúde que atenderam o meu filho. Quer no Hospital da Guarda, quer no de Viseu, ele foi muito bem tratado. Mas isso não chega», disse a O INTERIOR Cláudia Guedes, mãe do rapaz, frisando que o seu descontentamento é com «a falta de profissionais» na ULS.
«Como é possível eu ter que ir para Viseu para colocar gesso no braço do meu filho?», questiona a progenitora. «Ora, tratando-se de um serviço que tem uma urgência que é suposto ser médico-cirúrgica, afinal isso não passa de uma teoria. Isto é uma evidência que estão a tirar o essencial à população», defende Cláudia Guedes, que espera «que as coisas mudem» não só na Ortopedia, mas noutras valências do Sousa Martins como a Cardiologia ou Oftalmologia. «Acho que a qualidade de vida da população está posta em causa neste momento», lamenta a professora, que percorreu cerca de 150 quilómetros (ida e volta) para colocar gesso no braço do filho. «Fui em carro próprio por questões de comodidade, mas tinha possibilidade de ir de ambulância», frisou Cláudia Guedes, adiantando que a Urgência do Hospital de Viseu estava «caótica». Questionada por O INTERIOR sobre a opção de transferir a criança para Viseu e não para a Covilhã, a ULS respondeu que na rede de referenciação nacional, na especialidade de Ortopedia, «os doentes são orientados para o Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar Tondela-Viseu».
«Acho que o país está no limite não só na Educação, mas também na Saúde. E se na Educação há serviços mínimos acho que na Saúde também devia haver», defende Cláudia Guedes, afirmando que «alguém tem que fazer alguma coisa» pelo Hospital da Guarda.
Sara Guterres