Tal como foi referido na edição anterior, vamos continuar a olhar para fenómenos simples através da ciência, fenómenos estes que, de tão rotineiros, não procuramos compreendê-los através do prisma da ciência.
Um desses exemplos simples é o motivo pelo qual os copos de cristal se tornam baços quando colocados numa máquina de lavar a louça. E será que podemos reverter este processo?
Os vidros de cristal devem a sua claridade à superfície muito lisa. Contudo, podem ser mais moles do que os vidros mais baratos. Os copos de cristal ficam embaciados quando se lavam numa máquina porque o detergente, fortemente alcalino, raspa e torna áspera a superfície do vidro. O vidro é composto por dióxido de silício com vários iões metálicos encrustados no dióxido de silício, semelhante a um pudim de passas. Os vidros vulgares contêm, nesses buracos, iões de sódio e cálcio. O cristal de chumbo tem iões de chumbo que irão ser dissolvidos pelo detergente para formar hidróxidos, responsáveis pela corrosão. Os vidros que têm uma grande concentração em chumbo, como é o caso de um copo de cristal, são mais susceptíveis de serem corroídos e devem ser sempre lavados à mão, usando sabão ou um detergente suave, e enxugados com um pano. Um pano de algodão ou de linho tem um efeito polidor suave, como os empregados de bar muitas vezes demonstram. Para reverter este processo de embaciamento utiliza-se um de dois processos: o processo químico, como ácido fluorídrico tamponizado, exigindo bastante segurança ou então o polimento mecânico, bem mais seguro.
Um dos outros factos científicos simples de explicar é o lacrimejar quando estamos a cortar cebola. As cebolas e os alhos contêm derivados de aminoácidos sulfurados, quando se corta a cebola um dos compostos é decomposto por uma enzima para formar o óxido de propantial-S que é o irritante ou lacrimante.
Em contacto com a água – neste caso, nos olhos – o irritante hidrolisa-se, formando-se propanol, ácido sulfúrico e sulfureto de hidrogénio. Lacrimejantes, os olhos tentam diluir o ácido. Contudo, é a estes mesmos compostos sulfurados que se deve o cheiro agradável das cebolas quando são cozinhadas.
Para evitar o lacrimejar dos olhos sugiro um dos seguintes procedimentos: pare de usar cebolas ou use óculos de nadador enquanto as corta. Agora de um modo mais sério, corte as cebolas dentro de água, de modo a perder algum do seu aroma, ou antes de cortar a cebola, lave-a e mantenha-a molhada.
Na próxima edição, e como estaremos quase na véspera de Natal, irei sugerir alguns livros de ciência para presentes de última hora.
Por: António Costa
