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Fenómenos simples – I

Mitocôndrias e Quasares

Quando olhamos para ciência somos, muitas vezes, atraídos para os conhecimentos mais intrincados, estamos mais interessados em compreender se existe uma teoria que unifique as forças todas do universo, do que perceber por que razão os corpos são atraídos para a Terra.

Este fascínio pelas fronteiras do conhecimento está muito relacionado com o imaginário de cada indivíduo. É mais estimulante imaginar que existem centenas de mundos paralelos, cada um com uma pequena variação relativamente aos outros, do que perceber por que razão (num dia claro) o céu é azul.

A vanguarda do conhecimento é intrínseco à natureza humana, o cientista procura sempre alterar a linha do limite do conhecimento para um ponto mais avançado, procurando acrescentar algo de novo ao já existente. Deste modo, o cientista empresta um olhar menos atento a todo o edifício que sustenta esse conhecimento. Esta ideia é, também, aplicável aos cidadãos na medida em que tudo o que nos rodeia é observado de um modo pouco atento, sem existir a necessidade de compreender a natureza dos fenómenos, focando sempre a atenção na tecnologia mais avançada de cada área.

Contudo, olhar para a ciência também é olhar para fenómenos simples do dia-a-dia. É isso que proponho hoje, compreender a natureza de alguns fenómenos rotineiros.

O que acontece quando um raio, de uma trovoada, cai na água? Morrem todos os peixes?

Quando uma descarga eléctrica, tal como uma faísca eléctrica, choca com uma superfície aquosa, a electricidade pode escoar-se para a Terra numa miríade de direcções. Devido a isso, a electricidade é espalhada sobre a superfície hemisférica que rapidamente dilui a descarga original. Contudo, uma faísca tem uma temperatura de alguns milhares de graus e pode facilmente vaporizar a água que rodeia o ponto de impacto. Isto criará uma onda de choque abaixo da superfície que pode alterar a anatomia de um peixe ou ensurdecer mergulhadores humanos num raio muito maior – dezenas de metros.

Quando a faísca cai, o melhor lugar para se estar é dentro de um condutor, tal como o casco metálico de um navio, ou mergulhado na água do mar. No século XIX, o físico Michael Faraday mostrou que não existe campo eléctrico no interior de um condutor. Demonstrou isso entrando numa gaiola revestida com tela metálica e lançando depois descargas eléctricas artificiais sobre ela. Todos ficaram surpreendidos excepto Faraday, quando este saiu da gaiola, incólume.

Por que razão (num dia claro) o céu é azul?

O céu é azul devido a um efeito que se chama espalhamento de Rayleigh. A luz vinda do Sol choca com as molécula do ar e é espalhada em todas as direcções. A intensidade do espalhamento depende da cor da luz. A luz azul, que tem uma elevada frequência, é espalhada dez vezes mais do que a luz vermelha, que tem uma frequência baixa. Assim, a luz espalhada, de “fundo”, que vemos no céu é azul.

O mesmo processo também explica as belas cores vermelhas do sol-poente. Quando o sol está baixo, perto do horizonte, a sua luz passa através de grande espessura da atmosfera no seu trajecto até nós. Durante a viagem, a luz azul é desviada por espalhamento. Mas a luz vermelha, que é menos susceptível de ser espalhada, pode continuar no seu caminho directo para os olhos.

Estes são dois dos diversos exemplos sobre fenómenos rotineiros do dia-a-dia, e com os quais se observa a beleza da ciência. Na próxima edição vamos procurar perceber como evitar lacrimejar quando cortamos cebolas, por que razão se tornam mais baços os copos quando lavados na máquina de lavar a louça ou por que razão uma imagem num espelho está invertida da esquerda para a direita, mas não de cima para baixo.

Por: António Costa

Descarga eléctrica  no mar – imagem retirada de

Fenómenos simples - I

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