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FELICIDADE

Por Beatriz Almeida (11º B)

Ciclos. A nossa vida é composta por ciclos. Ela própria é um ciclo. Ciclos que têm em comum o fim. Como este que agora vivemos, a conclusão de mais um ano escolar que, para muitos, será o fim do ensino secundário. Ciclos que se fecham dentro de ciclos mais vastos, como se fossem concêntricos.

Fermentam em nós sentimentos contraditórios que enraízam no fim e num novo iniciar. Um viver de antíteses, perpassado pelo agridoce que a vida nos oferece: nostalgia e felicidade. Estranho? Talvez não, porque os extremos tocam-se. Emerge a nostalgia quando o tempo se matiza de experiências que nos fizeram mais fortes, que nos fizeram o que somos. A felicidade temo-la ao alcance da nossa mão, logo ali, com o espreitar de um novo ano, ainda melhor certamente.

Foi um ano árduo para muitos e não tanto para outros. Aconteceu tudo o que já havia acontecido antes, e que voltará a acontecer em muitos anos entre as paredes do liceu. Criaram-se amizades, acabaram-se namoros, estudaram-se muitos livros, verteram-se muitas lágrimas, e expressaram-se ainda mais sorrisos. Mais um ano de convivência entre a tribo, muitas vezes tormentosa, dos jovens. Gritamos liberdade, julgamos ser o arquétipo dela, rodeados de oceanos de informação, conhecimento e livre arbítrio. No entanto, somos prisioneiros mecânicos dum regulamento imaginário e severo que nos amarra, somos náufragos em divisas mais limitadas. Não valorizamos o conteúdo. O problema das novas gerações é querer crescer demasiado depressa. Mas queremos este tempo, bebendo-o em função da nossa sede. É nosso, precisamos dele para errar, para sujar as mãos de cores berrantes, para derrubar o nosso cavalete, para sair da nossa tela.

Liberta-te. Ergue-te e vê. A rotina que nos domina, tal como tudo, tem um fim. Um dia serás dono de ti mesmo. Afinal…somos pó de estrelas. Fomos e seremos. O corpo morre, permanece a lembrança. Tudo o que defendias se esquece, tudo o que vestes há de ser pó, tudo o que amaste é abandonado, tudo o que foste expira. Temos na nossa posse um número desconhecido e limitado de anos para criarmos algo que dure para sempre.

Inspira o ar mais puro da cadeia montanhosa mais alta. Aquece os teus pés nos pés da pessoa que mais gostas. Atravessa fronteiras, vai para onde o sol beija a terra. Aprecia o simples facto de respirares. Toca o céu, as estrelas, o chão, a areia. Aprecia tudo o que tens e sonha o impraticável. Cometer o erro não significa que não o transcendas. Cria a saudade!

Saudade! Apesar das opiniões discordantes: um dos melhores sentimentos do mundo. Com ela evocamos os momentos que nos inundaram de felicidade. Com ela sabes o que foi e o que é importante para ti. Com ela percebes o amor, apercebes-te que amas o que abandonaste ou o que te abandonou. Faz com que cada passo teu seja motivo de saudade. Faz com que o teu nome seja relembrado, pois não voltará a existir outro António, José ou Maria. És perfeito e insubstituível. Sei que as minhas palavras se repetem, porém a repetição leva à memória, a memória leva à mente e a mente leva à alma. Um brinde a nós!

Não te percas à procura da felicidade, um dia ela vem, ela vem sempre. Talvez hoje seja o dia. De que estás a espera?

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