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FEG em marcha para apoiar últimos desempregados da Delphi

Fundo europeu contribui com subsídios para formação profissional e para a criação do próprio negócio

Mais de duas centenas de ex-trabalhadores da Delphi da Guarda vão poder beneficiar dos apoios do Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização (FEG). O Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) divulgou as medidas disponíveis na semana passada, numa reunião que decorreu na sala da Assembleia Municipal da Guarda.

A sessão gerou alguma contestação, uma vez que os dispensados em 2009 pela multinacional norte-americana não foram convocados. A explicação foi dada na passada quarta-feira e tem a ver com o facto da candidatura do IEFP ao FEG só abranger os despedimentos ocorridos entre julho e dezembro de 2010. No final da reunião houve também quem não escondesse alguma desilusão, pois a maioria dos convocados tinha a expetativa de «algo mais concreto», confessou Manuel Tavares. «São apoios para criarmos o próprio emprego ou para um eventual empregador se formos contratados», disse, admitindo ter ido para a reunião com outra ideia. «Pensámos que pudesse ser para alguma oportunidade de trabalho, já que tem havido uns rumores sobre um novo projeto na área das cablagens para a Guarda», acrescentou. Na prática, o FEG vai apoiar 265 dos 318 funcionários despedidos em dezembro do ano passado, data do fecho definitivo da fábrica da Guarda-Gare.

«Os restantes já estão a trabalhar ou emigraram», explicou fonte do gabinete de comunicação do IEFP, a quem os jornalistas tiveram que recorrer porque nenhum dos responsáveis presentes na reunião de quarta-feira quis prestar declarações. É o mesmo gabinete que adianta que o FEG é «um instrumento comunitário para ser utilizado em circunstâncias extraordinárias», nomeadamente quando o fecho de uma empresa tem um grande impacto social em termos de desemprego numa determinada região. Foi o caso na Guarda, onde a Delphi fechou portas deixando sem trabalho mais de 900 pessoas, despedidas em três fases: dezembro de 2009, abril/maio e dezembro de 2010. Segundo o IEFP, o fundo contempla «medidas de orientação, de qualificação, inserção profissional e planos de integração» e os apoios vão vigorar até 5 de junho de 2013. Trocado por miúdos, isto quer dizer, por exemplo, que quem frequentar ações de formação específicas poderá ter direito a uma verba que pode chegar aos oito mil euros.

Já a criação do próprio negócio garante um subsídio de 20 mil euros por cada posto de trabalho criado, incluindo o do promotor, até ao máximo de três. Depois desta sessão inaugural, o IEFP vai agora promover reuniões mais pequenas para «sistematizar os apoios disponíveis e orientar as pessoas». Esta candidatura portuguesa ao FEG abrangeu 726 trabalhadores despedidos no sector dos componentes e acessórios para automóveis. Tem um valor global de 2,34 milhões de euros, mas só 65 por cento desse montante é financiado pelo fundo. Isto é, Portugal só vai receber 1,5 milhões para apoiar estes desempregados de três empresas do norte e centro do país. A maioria dos beneficiários (62,4 por cento) foram dispensados pela Leoni, de Viana do Castelo, os restantes ficaram sem trabalho na Delphi da Guarda e na Kromberg & Schubert Portugal, de Guimarães.

PSD diz que houve «aproveitamento político»

A concelhia da Guarda do PSD considera que houve «aproveitamento político» da reunião do IEFP com os antigos trabalhadores da Delphi. Tudo porque a iniciativa decorreu nas instalações da autarquia, uma opção criticada pelos sociais-democratas: «Lamentamos que sejam utilizadas as vítimas do fecho da Delphi, aproveitando politicamente verdadeiros casos de desespero pessoal que resultaram no maior despedimento coletivo da história da Guarda, utilizando os seus desempregados como meio para promover políticos do PS, tentando branquear a sua inércia», disse Isabel Bandurra, em comunicado.

A dirigente acrescenta que o IEFP da Guarda tem um auditório «com dignidade e de dimensões similares» e recordou que «foi o PSD que alertou as entidades competentes» para a possibilidade de recurso ao FEG no caso da Delphi. «Tal medida jamais teria surgido se os desempregados contassem apenas com o empenho dos serviços desconcentrados do Estado na Guarda, nomeadamente o Centro Distrital de Segurança Social, o Instituto de Emprego Formação Profissional e a Câmara», sublinha Isabel Bandurra.

Luis Martins

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