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Fecho da maternidade da Guarda sem «qualquer justificação»

Obstetras e ginecologistas do Hospital Sousa Martins rejeitam argumentos invocados e recusam «qualquer tentativa» da sua deslocação para outros hospitais

Os médicos do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Sousa Martins, na Guarda, rejeitam «categoricamente» os argumentos invocados no Plano Estratégico de Reordenamento da Maternidade da Beira Interior, elaborado pela Comissão Nacional de Saúde Materna e Neo-Natal, que recomenda o encerramento daqueles serviços na Guarda e Castelo Branco. Os clínicos, que estiveram reunidos na semana passada, sublinham que não encontram «qualquer justificação para que as grávidas do distrito da Guarda sejam obrigadas a ter os seus filhos na Covilhã, sem que para isso haja qualquer garantia de melhoria assistencial». E recusam mesmo «qualquer tentativa» da sua deslocação para outras instituições hospitalares.

É a mais recente posição contra o fecho da maternidade, uma matéria que está a gerar unanimidade com excepção do director clínico do Sousa Martins, cada vez mais isolado na aceitação dessa eventualidade. Curiosamente, José Cunha não participou, sexta-feira, na reunião dos eurodeputados socialistas com o Conselho de Administração (CA) do hospital. No final, a directora Isabel Garção disse já ter defendido a manutenção do serviço junto da tutela e acrescentou estar convicta de que a maternidade não vai fechar. «Apesar do relatório, há aspectos de geografia local e recursos técnicos e profissionais que têm que ser equacionados», garante, sublinhando que o número de partos do Sousa Martins é «bastante razoável» para manter o serviço com a qualidade que lhe é reconhecida: «Temos condições muito boas para actuar, profissionais muito bons e queremos continuar em frente. As outras unidades da Beira Interior têm muito menos partos que nós e penso que Hospital Pêro da Covilhã não terá pediatras e obstetras em número suficiente para poder receber as parturientes de Castelo Branco e da Guarda», constata.

A nível político sabe-se também que Maria do Carmo Borges e Ana Manso estão juntas contra a transferência da maternidade para a Covilhã. A presidente da Câmara manifestou-se convicta de que tal cenário não vai acontecer, porque o ministro da Saúde «vai ser uma pessoa inteligente». Já a líder do PSD e deputada na Assembleia da República garantiu que vai fazer tudo para que a questão «nem sequer se coloque». A também vereadora na autarquia considera que a maternidade «não pode nem deve fechar em situação alguma, é um serviço básico, uma especialidade fundamental para o bom e normal funcionamento de uma unidade que todos queremos cada vez mais prestigiada, até porque se prevê o início da construção do novo hospital no final de 2005, princípio de 2006», recordou. Ainda recentemente o executivo guardense aprovou por unanimidade um voto de protesto, já enviado ao Ministério da Saúde, face a esta eventual transferência, tendo na altura Maria do Carmo Borges desfiado o Governo a fazer um levantamento dos nascimentos na Guarda e compará-los com os de outras cidades.

Contudo, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro já disse, à margem do lançamento da empreitada do novo Centro de Saúde de Gouveia, que a maternidade do Sousa Martins não fechará «enquanto continuar a garantir a prestação de serviços de qualidade às parturientes e recém-nascidos». Segundo Fernando Andrade, o serviço «é de qualidade, pelo que não está em causa o seu encerramento por enquanto», afirmou na altura, acrescentando no entanto que o «fio que segura» o serviço é «muito frágil» e pode «quebrar a qualquer momento». No entanto, o médico tranquilizou os mais pessimistas sustentando que, apesar da maternidade não ter os 1.500 partos, tem «qualidade na assistência que presta no parto e pós-parto. Tem pediatras à cabeceira do recém-nascido e portanto não se põe a questão de fechar uma maternidade que tem essa qualidade», afirmou. Recorde-se que a Comissão Nacional de Saúde Materna e Neo-Natal, presidida pelo ex-ministro da Saúde Albino Aroso, prevê o encerramento das maternidades que fiquem aquém dos 1.500 partos anuais, número que considera ser o mínimo aceitável para as manter em funcionamento com qualidade.

Luis Martins

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